Ciclistas lutam para conquistar seu espaço

Publicado em 28/11/2023

Um dos exemplos mais sólidos da mobilidade urbana sustentável é a bicicleta. O veículo não é poluente, faz para a saúde e também para o bolso, já que precisa de uma mínima manutenção e dispensa combustíveis de qualquer natureza. Em Belém, tem sido cada vez mais comum encontrar ciclofaixas e ciclovias e um movimento cada vez maior de pessoas que optaram pela bike como seu meio de transporte principal.

Mas o que poderia ser um bom exemplo de sustentabilidade nem sempre é visto com bons olhos pela população que utiliza veículos motorizados. Ao mesmo tempo em que se observa as ciclovias e ciclofaixas, se vê carros parados sobre elas, motocicletas transitando por ali, buracos, falta de sinalização adequada, entre outros problemas que desestimulam qualquer um a circular sobre as magrelas. Para a jornalista Melissa Noguchi, 37 anos, coordenadora geral do Coletivo Pará Ciclo, a impaciência dos motoristas com os ciclistas e o desrespeito ao espaço deles é definida com uma palavra: carrocentrismo.

“A gente é criado nessa sociedade, em que a expectativa de vida é que eu trabalhe, tenha um emprego, tenha uma casa e compre o meu carro. Não é a gente ter transporte público de qualidade para que eu possa fazer um deslocamento mais tranquilo”, aponta Melissa. “E o coletivo? Para que a gente tenha essa redução de emissão de gases, faça a ocupação dos espaços da cidade. Hoje a gente ocupa um percentual muito grande da cidade com veículos estacionados que passam o dia inteiro lá parados e que se a gente tivesse fazendo outras atividades nesses espaços, eles estariam muito melhor utilizados”, sugere.

“Eu acho que o grande desafio é conseguir mudar a cabeça das pessoas. A gente ainda encontra muitas barreiras. Sabemos que às vezes as nossas demandas são atendidas pelo poder público, mas elas são muito criticadas pela pela população de uma maneira geral. ‘Ah, tirou o estacionamento de uma via e colocou uma ciclofaixa. É um absurdo, porque agora não tem onde estacionar na área comercial’. A pessoa acha que isso é péssimo e na verdade não é”, defende.

“Quando a gente entra com uma ciclofaixa em uma via, a gente tem um ganho muito grande, porque o ciclista passa em menor velocidade. E tem uma questão de circulação de pessoas em maior quantidade do que carro estacionado. Isso proporciona maior segurança, então tem vários benefícios aí agregados. Mas ainda é muito criticado. Uma parcela muito grande da população tem esse pensamento carrocêntrico”.

Adaptação à uma nova realidade

Fora o problema de aceitação por parte da sociedade e mudança de hábitos, a coordenadora do ParáCiclo, Melissa Noguchi, destaca a questão do transporte público de qualidade ruim. “Também não tem qualidade nas informações desse transporte. Além do que, ainda há muitos investimentos voltados para os veículos motorizados. A gente vê novas vias sendo abertas, como a avenida João Paulo II, uma política pública ainda muito pautada no carrocentrismo. Isso precisa mudar. A gente precisa mudar esse paradigma e começar a entender que ou a gente se adapta à nova realidade, a esse processo de mudanças climáticas, ou então a gente não vai conseguir vencer”, alerta.

“Tudo isso que a gente está vivendo, os engarrafamentos, o caos no trânsito, os atropelamentos. É essa demanda de altas velocidades que a população tem dentro dos centros urbanos que não deveria existir”.

O fato de Belém ser uma capital dentro da Amazônia e, ainda por cima, futura sede da COP-30, também é destacado pela coordenadora geral do Coletivo ParáCiclo. “A gente está muito aquém. Uma cidade que que poderia ser referência, que poderia ser um projeto piloto, de referência de como deve ser uma cidade pautada na mobilidade sustentável”, defende. “Precisa avançar em investimentos para a mobilidade ativa, como para os pedestres. Precisa ter calçadas de qualidade, precisa ter arborização, climatização minimamente agradável. Sabemos que o nosso clima é quente e úmido, mas quanto mais arborizado, melhor”.

Confira a seguir outras ideias defendidas por Melissa Noguchi e os participantes do Coletivo ParáCiclo!

MALHA CICLOVIÁRIA

“Temos uma malha cicloviária considerável na cidade, mas que precisa melhorar tanto na ampliação, quanto na qualidade. Tem vias com malhas cicloviárias, mas que são difíceis de utilizar: são esburacadas, perigosas, mal sinalizadas, escuras. Tudo isso dificulta a vida de quem tem interesse. Fizemos uma pesquisa de demanda potencial, onde a gente aplicou questionários com a população que estava, por exemplo, na parada de ônibus e perguntou – Você usaria bicicleta? Sim, se tivesse segurança. Tem muitas ocorrências de assaltos e roubos. É infraestrutura e segurança”.

EDUCAÇÃO

“Até mesmo a imprensa culpabiliza o mais fraco. ‘Ah, o ciclista está andando no BRT e colocou a vida dele em risco’. Mas por que ele está andando no BRT? O que está acontecendo para esse ciclista transitar no BRT? Será que a ciclovia está lá para que eles se desloquem de forma confortável, segura, tranquila e rápida? Quem transita por ali são trabalhadores e que precisam se deslocar no menor tempo possível. A gente não tem transporte elétrico. A cidade não tem eletrificação de nada, é uma pauta urgente que precisa avançar o quanto antes”.

POLUIÇÃO

“Entre os impactos do transporte convencional que a gente busca evitar, estão principalmente as emissões de gases do efeito estufa. Quanto mais a gente consegue investir na mobilidade sustentável, na mobilidade ativa, melhor pra todo mundo. Melhor para as cidades, meio ambiente, pra gente contribuir de alguma forma pra essa mitigação dos efeitos da das mudanças climáticas”.

LEGADO DA COP 30

“Temos uma preocupação muito grande em relação ao que vai ser implantado de infraestrutura, não só de malhas cicloviárias, mas de uma maneira geral. Que esses benefícios não sejam temporários ou um elefante branco no meio da cidade. O que a gente quer é que sejam benefícios que fiquem, como um legado para a cidade. Que venham os investimentos não só pro centro, onde vai acontecer a COP, mas que a periferia também receba esses benefícios”.

l COLETIVO PARÁCICLO

O coletivo ParáCiclo tem por objetivo organizar, promover e desenvolver atividades, ações e projetos que fomentem cada vez mais a mobilidade ativa, principalmente a bicicleta, buscando incidir em políticas públicas, através de campanhas (Bicicleta nos Planos), divulgação de ações sobre bicicleta, geração de dados por pesquisas, elaboração de projetos de educação e intervenção urbana.

 

 


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