Mercadinhos: tradição nos bairros e não te deixam na mão

Publicado em 10/12/2023

Os mercados de bairro, ou “mercadinhos” como são carinhosamente chamados pelos consumidores, ainda resistem em Belém, apesar da presença cada vez maior de gigantes redes de supermercados e atacadões na cidade. Com uma variedade de produtos, esses locais contam com a criatividade para atrair cada vez mais clientes, multiplicando as atividades, sem perder de vista a qualidade no atendimento.

De acordo com levantamento do Sebrae, o comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios (minimercados, mercearias e armazéns) registrou crescimento de 13,6% entre os anos de 2020 e 2021, principalmente por causa da pandemia e da implantação do PIX.

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Além de ser um nicho que abriga diversos tipos de atividades em um só formato, como por exemplo padaria, açougue e hortifrúti, a pesquisa mostrou que o segmento foi um dos poucos que não parou suas atividades durante a pandemia, por ser considerado essencial. 

No bairro da Pedreira, a taberna do Henrique resiste ao tempo. O proprietário, João Henrique, de 42 anos, conta que o comércio começou com o pai dele no tempo em que a área ainda era ponte de madeira e gapó. “Tudo começou com o meu pai, ele tinha comércio aqui. Inclusive já teve barraca no Ver-o-Peso e veio para cá. Mas sempre moramos na Pedreira, quando aterraram para cá meu pai foi indenizado e com esse dinheiro ele comprou esse ponto. Eu e meus irmãos crescemos atrás do balcão. Mas infelizmente, ele vendia muito fiado no caderninho e também não sabia administrar muito bem”, explica.

“Quando meu pai morreu, eu resgatei a essência do mercado. Paguei a parte dos meus irmãos e passei o ponto para mim. Mas eu fiz algumas modificações, comecei com a panificação, vendemos bebidas, carvão e água mineral. Ainda tenho um caderninho para as vendas no fiado, mas não vendemos mais assim para qualquer pessoa. Só os vizinhos mais próximos e que pagam direitinho. Daqui eu tiro meu sustento e ajudei a criar meu filhos”, disse.

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Já no bairro da Sacramenta, o comércio do Manoel Raimundo, 69, mas conhecido como “Bigode”, é o quebra galho da vizinhança. “A procura à noite é grande, sempre quando falta ovo, manteiga e mortadela na hora da janta, eles vêm aqui. Eu digo que o período que mais vende é final do mês, porque as pessoas costumam fazer as compras grandes no supermercado, deixam para comprar no mercadinho algumas coisinhas só para completar a dispensa”, avalia.

“São cerca de 30 anos de comércio, já trabalhei com outras coisas. Mas quando saí da CLT, investi o dinheiro aqui nesse comércio. Desde então é nossa renda”, lembra. 

Na Cremação, Nazaré Leão, tem um mercadinho há mais de 10 anos. O comércio era da sua mãe, depois foi do seu marido e quando ele faleceu ela continuou com o legado. No local ainda tem alguns elementos do tempo da mãe, como o caderninho de fiado e a balança para pesar a farinha. “Eu tento seguir o legado deles. Minha vontade é de ajeitar o local, comprar uma balança e um freezer novo. Tem meses que as vendas estão boas e outras não. Sempre quando os vizinhos precisam eles vêm aqui, principalmente no final do mês quando o bolso aperta. Para os mais íntimos, eu deixo comprar no fiado”, diz. 

Já o mercadinho do Antônio Santos, 63, no bairro do Canudos, foi aberto no ano passado e cresceu rapidamente. Hoje, vende de tudo um pouco, desde frutas, verduras e legumes, a atração principal, até outros itens como refrigerantes, charque e até pão, que ficou famoso no bairro. “Nós somos de Ananindeua, mas decidimos montar o mercadinho por conta da minha filha ter ficado desempregada. No início eu só ajudava ela, mas com quatro meses ela foi chamada de novo. Desde então eu tenho administrado. A gente vende de tudo um pouco, até pão”, conta.

“Eu acredito que a freguesia daqui é a vizinhança local. Existem muitas redes de supermercado aqui por perto, mas isso não impede as nossas vendas. A gente tenta se modernizar também, aceitamos pix e cartão. Para os mais próximos a gente vende fiado, todo mundo passa por problemas financeiros. Quando está faltando algo na despensa, eles vêm aqui. Já que são compras menores”, disse.


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