Rock in Rio terá sertanejo com Luan Santana e Ch&X

Publicado em 29/04/2024

Para quem se lembra da estreia de Luan Santana, com o disco “Ao Vivo”, atravessado por solos de guitarra e bateria, não é de se espantar que agora ele esteja se preparando para cantar no Rock in Rio, em setembro, como o primeiro cantor de country em quatro décadas de festival.

“Gosto de flertar com o rock, principalmente pela sensação de liberdade que ele traz. ‘Meteoro’ é um roquezinho, pô”, diz Luan, ao me receber em seu escritório na Grande São Paulo, depois de termos acompanhado a gravação de um DVD em Belo Horizonte e a estreia de sua turnê, em Campo Grande, no ano passado e retrasado, para entrevistas interrompidas pelo frenesi de amigos, familiares e celebridades em seus camarins.

Em sua turnê, a “Luan City”, Luan deixou o chapéu de caubói e a camisa xadrez e apostou no brilho dos cristais, além de coturnos e calças flare, para compor os trajes com ares de Elvis Presley, uma de suas inspirações, que agora ocupam seu guarda-roupa.

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Há ainda as regatas ultracavadas e perfuradas e as peças de cetim, em nada parecidas com o look padrão dos sertanejos que se apresentam em rodeios e festas de peão, com muita pele à mostra, para sublinhar os músculos e as tatuagens com referências que vão da Bíblia à série “Harry Potter”, duas de suas paixões.

As peças, criadas junto de sua mãe, Marizete Santana, se distanciam do louvor ao agronegócio que tem se tornado cada vez mais popular no entretenimento, por meio de artistas do estilo chamado agronejo, como Ana Castela, ou novelas como “Terra e Paixão”, que a Globo exibiu antes do remake de “Renascer”.

O estilo gera tanto elogios quanto críticas. Há quem o compare ao Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry, em tons de apreço, e quem o associe a Xuxa, em sinal de reprovação. João Neto, da dupla com Frederico, ironizou os looks. “Nosso sertanejo mudou bastante ou é impressão minha?”, escreveu ele nas redes.

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Mas Luan, de 33 anos, metade deles dedicados à música, diz não se incomodar com o julgamento, que ele avalia como uma constante em sua carreira, inclusive em relação à vida pessoal. Quando despontou, era questionado o tempo todo na televisão se era gay, o que ele refuta.

“O sertanejo é próximo do country americano, então tem os tradicionais, mas essas pessoas pararam no tempo”, diz. “Já sabia que ia ter gente criticando. Se eu fosse um tradicionalista do sertanejo, um agrônomo que joga veneno nas plantações, também teria um choque. Só que não sou assim. Se esse cara não quiser me escutar, o problema é dele. Uma hora ele vai entender.”

Ao mostrar o escritório, com um mobiliário que destaca as fases de sua carreira, marcadas por looks e cabelos diferentes, Luan recorre à trajetória de Taylor Swift para explicar seus movimentos recentes. “Ela começou no country, mas estourou aquela bolha.”

A princípio, a comparação pode soar estranha, mas seu público, composto por 72% de mulheres, um terço delas de 18 a 24 anos, não é muito diferente de quem escuta as músicas da artista americana.

Ainda que as mulheres também sejam dominantes para outros astros do sertanejo, Marília Mendonça e Gusttavo Lima, por exemplo, têm uma audiência predominantemente mais velha, de 25 a 34 anos. Os dados, coletados pelo DeltaFolha, são da Chartmetric, uma start-up americana que reúne dados das principais plataformas digitais.

Luan, noutro movimento como os de Swift, também se distancia dos demais sertanejos por ter cuidado com o que diz. Ele dá raras entrevistas, evita expor a rotina nas redes e prefere distribuir palavras de carinho aos fãs, em vez de louvar a pátria, a família e a liberdade entre uma música e outra durante seus shows.

No ringue político que os palcos se tornaram perto das últimas eleições, com sertanejos apoiando Jair Bolsonaro e os artistas da MPB e do pop do lado de Lula, Luan preferiu o silêncio.

Ele explica os motivos. “Primeiro porque não entendo porra nenhuma de política. Segundo porque acho uma bobeira vestir a camisa de uma pessoa, defender uma pessoa, que não faria o mesmo por mim. Acho política muito importante, mas estou um pouco desacreditado. Não vejo motivo para entrar de cabeça de um lado ou de outro.”

Dessa forma, Luan tem se equilibrado entre estilos musicais a princípio opostos. Ele se apresenta em feiras agropecuárias, mas agora vai aos palcos do Rock in Rio. Grava com outros cantores country, como fez com Henrique & Juliano em “Erro Planejado”, mas também com divas pop, caso de Luísa Sonza, com quem fez “Coração Cigano”, para lembrar só exemplos do disco comemorativo de sua turnê.

A estratégia, apesar de ter ganhado mais nitidez agora, já era vista em seu álbum de estreia. “Ao Vivo”, que o transformou no artista mais ouvido da década passada nas rádios, arejava o sertanejo com os solos de guitarra de faixas como “Meteoro”, mas não se esquecia das raízes do gênero, com muita viola, em regravações de clássicos como “Apaixonado”, de Milionário & José Rico, e “A Loira do Carro Branco”, de João Paulo & Daniel.

“Sou de Mato Grosso do Sul, criado em Jaraguari, uma cidade de 5.000 habitantes. Minha criação foi cantando Tonico & Tinoco, mas sempre fui antenado e nerd, sempre gostei de mundos fantasiosos e de ler, então busco incessantemente a novidade. Não é diferente na música. Posso cantar o que eu quiser, e o sertanejo nunca vai sair de mim.”

Embora suas composições hoje sejam menos açucaradas e mais sensuais, a estratégia parece não ter mudado muito. Prova disso é o time reunido no estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, em Belo Horizonte, onde Luan gravou seu novo DVD. Os shows de abertura foram do pagode do Raça Negra ao funk de MC Don Juan, sem se esquecer do sertanejo, com Marcos & Belutti.

A diferença é que a “Luan City” mais se parece com a turnê de Coldplay, “Music of the Spheres”, ou a “The Eras Tour”, de Swift, e menos com uma festa do peão, com investimento de R$ 10 milhões, sob a direção de Kley Tarcitano.

Tarcitano montou o show de Anitta no Coachella, o maior festival de música dos Estados Unidos, e o de Jennifer Lopez no Super Bowl. Ele espalhou 600 toneladas de canhões de laser, fumaça e fogo, além de telões imensos, pelo Mineirão, com um palco da altura de um prédio de dez andares ligado a outras oito plataformas menores, ocupadas por bailarinos vestidos com looks futuristas, algo entre “Blade Runner” e “Star Wars”.

Mas Luan, com um cachê médio de R$ 1 milhão por show e cerca de R$ 150 milhões de faturamento com a sua turnê, que passou por 90 cidades e deve visitar outras 30 até o fim do ano, prefere não falar muito sobre cifras, em oposição à ostentação que domina o sertanejo, com artistas exibindo nas redes sociais suas caminhonetes de luxo e até caminhões. “Quem faz isso tem algum tipo de insegurança”, diz. “Tenho coisas caras, carros, mas não preciso ostentar. Dou valor a outras coisas.”


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