Doar leite é compartilhar o amor entre as mães

Publicado em 09/06/2024

Passado todo o período da gestação, no momento em que a mãe tem o seu bebê nos braços, a rotina de preocupação e cuidados com o novo membro da família se intensifica. Mas é justamente neste momento que algumas mulheres pensam também nos bebês de outras mães que necessitam de leite humano para conseguir se desenvolver melhor. São mães que, mesmo sem conhecer a identidade dos bebês ou das mães que estarão ajudando, se dispõem a doar um alimento precioso e único.

Quando engravidou do primeiro filho, o Gustavo, Arielly Assunção, não tinha ideia de que se tornaria uma doadora de leite materno. Foi quando ela já se organizava para voltar ao trabalho, após a licença maternidade, que ela viu uma postagem na rede social que lhe mostrou uma maneira, até então não pensada, de ajudar ao próximo. “Eu vi uma postagem de uma amiga que trabalhava no Banco de Leite [Banco de Leite Humano da Santa Casa do Pará] e na época estava todo mundo em casa porque tinha começado a pandemia e eu vi que por ali eu conseguiria ajudar”, recorda. “Aí eu entrei em contato e comecei a fazer a doação. Eu amamentei o Gustavo até quase três anos e aí eu já engravidei do Guilherme. Quando o Guilherme nasceu, eu já comecei a doar de novo. Então, eu parei de doar mesmo só entre o desmame de um e o nascimento do outro”.

Mantendo a rotina de doação até hoje, Arielly tenta encontrar palavras para descrever o sentimento gerado pela possibilidade de contribuir com algo tão valioso para outros bebês e outras mães. “É uma sensação única de conseguir ajudar muita gente. Às vezes, a gente fica se perguntando o que a gente pode fazer para ajudar o próximo e quando a gente encontra alguma coisa nesse sentido – no caso, eu encontrei a doação de leite – é uma sensação única, gratificante mesmo, poder ajudar e saber que o bebê que recebeu o leite vai ficar melhor de saúde, que ele vai poder ir para casa. É único”.

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A possibilidade de fazer parte dessa rede de doação também chegou para a Tassiana Scotta quando ela ainda amamentava a primeira filha, a Stella Maria. Ela lembra que, antes do nascimento da filha, ela até sabia da existência da doação de leite humano, mas não foi algo que passou pela sua cabeça naquele primeiro momento. A mudança veio através de uma campanha informativa que ela viu por acaso. “A minha primeira filha nasceu em 2022 e, no início, foi aquela dificuldade de amamentar e tudo, mas depois que passou essa dificuldade, eu consegui amamentar e comecei a ter uma boa produção de leite materno”, recorda. “E um dia eu conheci a doação de leite mais de perto numa campanha que fizeram em um shopping em que estava o Projeto Bombeiros da Vida [que faz o recolhimento das doações de leite humano na casa das doadoras] e a Santa Casa e eles explicaram direitinho como funcionava e eu me tornei doadora de leite materno”.

Tassiana manteve a doação de leite até que sua primeira filha parasse de mamar e, quando engravidou da sua segunda bebê, a Maria Thereza, não teve dúvidas de que seria doadora novamente. “Com o nascimento da minha segunda filha, que foi no final de 2023, eu voltei a doar novamente e aí já foi uma coisa que eu planejei, eu pensei ‘se eu já doei na primeira, vou doar na segunda’. Aí eu só contatei o projeto novamente para dizer que eu estava precisando do material para fazer a doação e eles, prontamente, foram deixar o material e eu continuo doando ainda para a Santa Casa”.

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Doadora de leite humano por 1 ano e 2 meses, Josiane Pompeu conhece bem a realidade vivenciada pelas mães e seus bebês que precisam permanecer no hospital por um período maior antes de irem para casa. Nutricionista do Banco de Leite da Santa Casa, ela não teve dúvidas de que, quando engravidasse, também seria uma doadora. “Eu me tornei doadora a partir do momento em que a minha bebê começou a mamar bem e eu comecei a ter uma boa produção de leite. Antes mesmo de me tornar mãe eu já tinha essa ideia de que quando o meu filho nascesse, com certeza, eu iria querer doar porque eu já trabalho aqui no Banco de Leite há alguns anos e eu vejo a importância desse leite para esses bebês que estão internados aqui”.

Josiane explica que a primeira opção para os bebês recém-nascidos que seguem em cuidado no hospital é o leite materno, mas, quando isso não é possível, a segunda opção é sempre o leite humano vindo das doadoras que colaboram com o Banco de Leite. Essa doação, portanto, faz toda a diferença para que muitos recém-nascidos possam contar com um alimento que proporcione um desenvolvimento mais rápido. “Durante a minha vivência aqui no Banco de Leite, com certeza eu consigo identificar e perceber a diferença de um recém-nascido prematuro que toma o leite materno, que toma o leite humano de doação, para um bebezinho que não consegue receber esse leite. A gente consegue identificar essa diferença no ganho de peso, a tolerabilidade desses bebês com esse leite materno também é muito maior, muito melhor e, com certeza, ele fornece todos os nutrientes que o bebê precisa nesse período que ele que ele está”, reflete.

Já de volta à rotina de trabalho, ela lembra que conseguia fazer a coleta na sala de apoio do local de trabalho, principalmente nos plantões, um período em que ela passava um tempo maior longe da sua bebê e que, portanto, o seu seio ficava bastante cheio. Josiane lembra que também é possível ver os benefícios que a doação de leite humano proporciona para as mães que têm seus recém-nascidos internados. “A mãe que recebe esse leite doado para o seu bebê é uma mãe que fica muito mais feliz, muito grata, e ela consegue também, às vezes, até produzir mais leite, fazer a ordenha, porque ela sabe que mesmo que ela não tenha o suficiente, o banco de leite vai conseguir oferecer esse leite de doação”.


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