Queimadas podem encarecer alimentos vendidos no Estado

Publicado em 22/09/2024

A seca e as queimadas que se alastram pelo Brasil podem causar impactos diretos sobre a produção e distribuição de alimentos. Em agosto, mais da metade dos produtos que compõem a cesta básica dos paraenses registraram uma leve queda de preços – com recuo de quase 2% –, mas a tendência pode ser interrompida devido às condições climáticas adversas.

Segundo Everson Costa, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), os efeitos dessas variações climáticas sobre o preço dos alimentos são vastos e profundos, e as queimadas não apenas prejudicam a produção agrícola, mas também afetam a pecuária.

O Pará, apesar de ser um grande produtor no agronegócio, ainda depende em larga escala da importação de produtos de outras regiões, como tomate, feijão e arroz. “Mais da metade do que a gente necessita de alimento nas nossas mesas vem de fora. A gente tem importação de produtos da cesta básica que podem variar de 60% a mais de 80%”, afirma Costa.

Essa dependência eleva os custos e torna o estado mais vulnerável às variações climáticas em outras partes do país. “O fato é que nós vivemos tempos de extremos climáticos. E, para quem não acredita, vimos o [caso do] Rio Grande do Sul e a gente ainda vai ver, infelizmente, outros fenômenos; desde a produção de alimentos, prestação de serviços, a economia e a sociedade como um todo já sentem esses impactos mais fortes”, relembra.

“As queimadas não apenas destroem o que está sendo plantado, mas também impactam diretamente o que será colhido, afetando não só a agricultura, mas também a produção de gado”, complementa. Ele destaca ainda que a estiagem dos rios, um fenômeno marcante da região, inviabiliza o transporte de mercadorias, elevando os custos não apenas do Estado paraense como da região Norte.

“A estiagem este ano começou mais cedo. Para além dos produtos da cesta básica, estamos falando também da alimentação local. Então, o nosso pescado, a nossa farinha de mandioca, e até mesmo outros produtos de cunho regional, passam a ser duramente afetados, porque a logística e distribuição sofrem”, detalha.

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Na prática, a formação de preços dos produtos, em especial para os paraenses, tem influência principal de sua origem, pela complexidade da cadeia de distribuição. O supervisor técnico explica que a região Norte, além de continental, é distante dos grandes centros produtores de alimentos do Brasil, como sul, sudeste e parte do nordeste, e por isso, há uma vulnerabilidade na formação de preço. “O destino pesa bastante, ou seja, o custo do frete, a entressafra dos produtos, e se a gente está com uma produção menor ou maior, são aspectos que afetaram os preços ao longo do período”, esclarece.

PREVISÃO

Como observado pelo Departamento ao longo dos anos, conforme Everson, a série histórica da cesta básica no Pará mostra que no segundo semestre anual é comum ter mais quedas do que aumentos. Este ano, esteve representada pelos meses de julho a agosto. “Em dezembro começa um novo ciclo de altas, porque o nosso inverno amazônico tem um começo nos meses de novembro e dezembro, e é um outro fator que determina a formação de preço no nosso território, encarecendo a produção e impactando na distribuição desses alimentos”, avalia.

Combinada à alta nos preços dos combustíveis e à bandeira tarifária de energia elétrica, elementos que também influenciam no custo final, a previsão para os próximos meses é de aumento no custo dos alimentos; e, embora os preços tenham caído no mês passado, é provável que esse movimento não se sustente por muito tempo. “O cenário para setembro e os próximos meses é desafiador. Estamos diante de uma nova realidade, na qual as condições climáticas influenciam diretamente na produção e na logística e, com isso, os preços podem voltar a subir”, alerta.

Apesar da queda recente, o paraense continua sentindo o peso no bolso. E até uma possível estabilidade, “o paraense tem que usar as armas que sempre usou”, diz o supervisor, referindo-se à necessidade de adaptação já que, mesmo com o recuo dos últimos dois meses, ainda está se pagando caro pelo preço dos alimentos. “A alta de preços também no primeiro semestre foi muito elevada. A gente está falando de uma alta acumulada no custo da cesta básica de cerca, em média, de 3% neste ano, mas produtos como o café, por exemplo, ainda mantêm uma margem acumulada de alta de mais de 25%. Isso é mais do que o dobro da inflação”, pontua Costa.

Como alternativa, ele sugere que os consumidores adotem estratégias para economizar, como pesquisar preços, aproveitar promoções e optar por compras mais frequentes e em menores quantidades. Costa ainda destaca que os mercados e feiras locais podem oferecer preços mais acessíveis, além de ajudar a movimentar a economia regional. “Muitas famílias têm optado por compras semanais ou quinzenais, ao invés de concentrar tudo em um único dia do mês. Isso permite aproveitar melhor as variações de preço e buscar ofertas mais acessíveis”, compartilha.


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