Mosqueiro: um lugar para apreciar as belezas e descansar

Publicado em 19/01/2025

No momento em que Belém vivenciava as mudanças urbanísticas e culturais impulsionadas pela economia da borracha, ainda no período colonial, as praias de água doce que caracterizavam a Ilha de Mosqueiro chamaram a atenção dos estrangeiros que se faziam presentes para trabalhar na transformação da cidade segundo os moldes europeus. Hoje distrito de Belém, a ilha mantém uma relação direta com o processo de formação da capital paraense.

Ainda que a fundação de Mosqueiro seja comumente relacionada ao dia 06 de julho de 1895, quando houve a elevação do território à categoria de vila, a história da ilha é muito mais antiga do que isso, como lembra o professor de língua portuguesa Claudionor Wanzeller. Filho de Mosqueiro, Claudionor se dedica a fazer um resgate da história da ilha, já tendo escrito alguns livros sobre a bucólica. Das pesquisas desenvolvidas ao longo desses anos, e que envolveram desde fontes bibliográficas, até os relatos dos moradores mais antigos, o professor conclui que a vocação para o turismo acompanha Mosqueiro desde mais de um século atrás. “Belém tinha vários estrangeiros que trabalhavam na construção do Porto de Belém, ingleses, americanos e outros estrangeiros. Eles vieram na chamada Belle Époque, um crescimento que a cidade teve em prol do chamado ouro branco, a borracha”, contextualiza. “E esse pessoal que veio do estrangeiro tinha esse costume de buscar o momento de lazer no final de semana. Então, eles descobriram Mosqueiro como um recanto paradisíaco, para vir fazer os seus famosos piqueniques”.

O professor conta que, na época, a ocupação de Mosqueiro resumia-se basicamente à área que hoje é conhecida como a Vila, que era uma rústica vila de pescadores. Era ali, inclusive, que os visitantes aportavam em embarcações. Além da própria Vila, que pela maior proximidade com Belém acabou se desenvolvendo mais rapidamente, o outro núcleo de ocupação de Mosqueiro ficava na área que hoje é a Baía do Sol.

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“O primeiro núcleo de povoação aqui no Mosqueiro aconteceu na Baía do Sol, com os colonos que vieram de São Luís do Maranhão. Lá, a ocupação foi feita com base na agricultura, então, surgem os sítios agrícolas de Mosqueiro. Hoje ainda tem o sítio Paysandu, o sítio Conceição, que são remanescentes, mas você não tem mais o primeiro, que foi o sítio Fazendinha”, conta. “Já a outra ocupação aconteceu na Vila, que na verdade era um vilarejo de pescadores, ligado à pesca artesanal. Na Vila houve uma evolução mais rápida pela proximidade de Belém porque a Baía do Sol passou a ter uma ligação mais direta com Belém só depois da construção da Ponte Sebastião Rabelo de Oliveira, em 1976, que liga a ilha ao continente”.

Em meio a esse cenário, os moradores de Belém que tinham uma condição financeira mais confortável começaram a se deslocar para Mosqueiro para ter um momento de lazer em contato com a natureza. Não demorou para que surgisse uma demanda por melhores estruturas na então Freguesia do Mosqueiro, que em 1895 foi elevada à condição de vila e, apenas seis anos depois, em 1901, passou a ser distrito de Belém, como permanece até hoje.

“Então, tudo que apareceu no Mosqueiro foi em função dos visitantes, do turismo, isso é algo histórico. Foi naquela época que surgiu o Mercado Municipal, em 1906; foi feito um novo trapiche já pelos ingleses, inaugurado em 06 de setembro de 1908; foi colocado aqui o Bondinho puxado a burro; foi feito o Primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro; Mosqueiro passou a ter uma subprefeitura. E o Cine Guajarino, que é de 1913, foi fundado pelo Arthur Pires Teixeira”, lembra Claudionor Wanzeller. “Depois, o pessoal que vinha só fazer piquenique achou que deveria ter as famosas casas de praia no Mosqueiro. Então, ao invés de passar só um dia e voltar, queriam ficar mais tempo, inclusive nas férias escolares. Aí começou a ocupação do Mosqueiro do Sudoeste para o Oeste. O pessoal foi começando a construir esses casarões na costa oeste de Mosqueiro, que é onde existiam as praias”.

Não à toa, muitas das construções erguidas em Mosqueiro, na época, atendiam aos padrões europeus. Mas o professor destaca que é possível observar, também, uma adequação ao clima amazônico. Ainda que muitas dessas construções tenham se perdido com o tempo, algumas ainda resistem no cenário da ilha. “Interessante é que como havia todo aquele movimento da Belle Époque, o pessoal procurava fazer esses casarões aliando a arquitetura europeia com as condições climáticas da ilha. Então, você observava que os casarões eram sempre altos, com porões, geralmente com aberturas para circular ventilação porque os assoalhos eram de madeira, as janelas eram duplas e as portas grandes para abrir para a circulação do vento e atenuar o calor”.

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Paisagens naturais ainda encantam frequentadores da ilha

Não foi apenas nos estrangeiros e moradores da Belém do período colonial que as belezas do distrito de Mosqueiro despertaram encantamento. Ainda hoje, passados tantos anos e uma intensa transformação, a ilha continua despertando e atraindo quem valoriza o contato com a natureza. O militar da reserva, Reginaldo Pinheiro, 57 anos, decidiu fazer de Mosqueiro não apenas o seu destino de lazer nas férias, mas a sua própria casa. “Tem três anos que eu me mudei para cá e eu posso dizer que tudo aqui em Mosqueiro, na Baía do Sol, é diferenciado. Não tem nada como ter esse contato direto com a natureza, a gente não imagina que isso é possível em Belém”, comentou, enquanto acompanhava o neto Arthur, de seis anos, em um passeio de bicicleta pela orla da Baía do Sol. “A energia que a gente sente aqui todos os dias não tem igual. O meu neto estava com alguns problemas de saúde, ele continua fazendo as terapias dele, mas depois que mudamos para cá a gente percebeu que ele melhorou 80%, então, esse contato com a natureza é diferenciado mesmo”.


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