Lagochilascaríase: conheça a doença que afeta região cervical e orofaringe

Publicado em 28/02/2025

Neste 28 de fevereiro, Dia Mundial das Doenças Raras, a atenção se volta para condições pouco comuns, que impactam a vida de muitas pessoas ao redor do mundo. Uma dessas enfermidades é a lagochilascaríase, uma infecção parasitária causada por um verme do gênero Lagochilascarias. Esta doença afeta principalmente a região cervical e orofaringe. Com sintomas que incluem dores abdominais, febre e formação de abscessos, a doença ainda é pouco conhecida, o que dificulta o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Considerada incomum e aliada à falta de conscientização, o cenário acaba se agravando, tornando a identificação e o enfrentamento da doença ainda mais desafiadores.

O infectologista Raimundo Nonato Queiroz de Leão alerta que, embora a lagochilascaríase não seja oficialmente considerada uma doença rara pelo Ministério da Saúde do Brasil ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é, de fato, uma condição negligenciada, que acomete principalmente pessoas de áreas remotas e de baixa renda, com acesso limitado aos serviços de saúde.

“Apesar de não estar reconhecida oficialmente como uma doença rara, ela causa grandes prejuízos à saúde da população, com alta morbidade e mortalidade, principalmente porque os casos demoram a ser diagnosticados”, explica o especialista.

O que é a lagochilascaríase?

A lagochilascaríase é uma infecção parasitária causada por um nematoide (verme) do gênero Lagochilascarias. Essa doença afeta principalmente mamíferos, incluindo o ser humano, quando o parasita entra no organismo, geralmente por meio da ingestão de alimentos ou água contaminados. Os sintomas podem incluir dor abdominal, febre e, em alguns casos, formação de abscessos. Embora seja uma doença incomum, pode ser considerada grave e exige diagnóstico e tratamento adequados, com o uso de antiparasitários.

A iniciativa de conscientização

Recentemente, Raimundo Leão lançou, junto com o Habib Fraih e Aline Carralas, o livro “Parasitismo por helmintos do gênero Lagochilascaris em seres humanos e em animais domésticos e silvestres”. O principal objetivo da obra é compartilhar o conhecimento adquirido durante o estudo de casos registrados, especialmente na década de 1980 e 1990, em Belém (PA), em pessoas provenientes de áreas remotas, como os vales dos rios Tocantins e Araguaia.

“O livro surgiu de duas necessidades. A dificuldade de diagnóstico clínico, pois a doença pode afetar vários órgãos e simular outras enfermidades, e a escassez de profissionais com experiência no diagnóstico laboratorial da parasitose”, explica o Dr. Leão.

A falta de especialistas para identificar casos de lagochilascaríase continua a ser um desafio, o que motivou a produção de um livro voltado para estudantes e profissionais da saúde, visando a conscientização sobre a doença.



A Persistência da Doença

Embora a doença tenha diminuído em algumas áreas, o infectologista destaca que a lagochilascaríase ainda é uma realidade. Em 2023, por exemplo, um caso foi diagnosticado em uma criança em Santarém, no Pará, após um profissional da saúde ter se deparado com o assunto em um capítulo do livro.

“Nosso objetivo é estimular estudantes e profissionais da saúde a reconhecerem essa doença e, assim, tratá-la adequadamente. Não estamos falando apenas de médicos, mas também de profissionais de outras áreas, como biomedicina e enfermagem”, afirma Leão.

Outro ponto importante destacado pelo especialista é que, no Rio Grande do Sul, por exemplo, casos de lagochilascaríase têm sido diagnosticados com maior frequência em animais domésticos, especialmente gatos, pois há centros veterinários dedicados ao estudo da parasitose, o que não acontece na região amazônica. “Se houvesse mais iniciativas semelhantes na região norte do Brasil, o número de casos diagnosticados seria bem maior”, aponta Leão.

Desafios no Sistema de Saúde

A lagochilascaríase enfrenta um grande desafio dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o infectologista Raimundo Nonato Queiroz de Leão, a falta de reconhecimento da doença dificulta o acesso ao tratamento. Embora o SUS tenha políticas para doenças raras, a lagochilascaríase – apesar de incomum – não está incluída nessa lista, o que gera dificuldades no fornecimento de medicamentos adequados.

“Para tratar a lagochilascaríase é necessário recorrer a medicamentos anti-helmintos em doses mais altas, mas esses medicamentos não fazem parte da política pública de doenças raras. Isso torna o tratamento muito complicado, principalmente para pacientes de áreas mais carentes”, explica o especialista.

Além disso, a doença é propensa a recidivas, ou seja, mesmo após o tratamento, os pacientes podem ter novos episódios. 



Avanços no entendimento e tratamento

Para a infectologista Aline Carralas, apesar de apresentar um avanço, muitas condições, como a lagochilascaríase, ainda não têm o reconhecimento devido, nem apoio de políticas públicas para diagnóstico e tratamento.

“A lagochilascaríase acaba ficando em uma situação de invisibilidade, o que dificulta seu reconhecimento e o desenvolvimento de políticas públicas para lidar com ela. A conscientização e a educação dos profissionais de saúde são essenciais para melhorar o diagnóstico e o tratamento”, aponta a especialista.

Eduardo Amoras, diretor de comunicação do Sindmepa, ressalta que “a lagochilascaríase é um exemplo de como doenças incomuns, muitas vezes negligenciadas, afetam a população”. Ele destaca “a falta de diagnósticos precoces e tratamentos específicos” que acabam agravando o quadro dos pacientes.

O diretor de comunicação do Sindmepa concluiu reforçando “a necessidade de ampliar a vigilância epidemiológica, fortalecer a rede de referência e garantir investimentos em pesquisa e capacitação dos profissionais de saúde”. Segundo ele, sem essas medidas, “continuaremos a assistir ao sofrimento evitável de pacientes com doenças pouco conhecidas, mas de grande impacto na qualidade de vida”.


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