Novos poetas do Norte mergulham na delicadeza dos dias
Publicado Diário FMem 21/05/2025
Uma autora paraense e um autor acreano vêm desenhando com palavras um novo mapa sensível da poesia contemporânea no Norte do país. Rebeca B. Dias e Márcio Bezerra da Costa lançam seus livros de poesia — “Escrever a correnteza e ver onde dá” e “Tecido Penumbroso”, respectivamente — propondo um olhar lírico sobre as sutilezas da vida cotidiana, das perdas, dos afetos e da resistência íntima.
Embora com vozes distintas, ambos se encontram na delicadeza e na profundidade com que abordam os sentimentos e os desvios da rotina. Se Rebeca flutua entre as águas doces de Mosqueiro e as marés internas de quem redescobre a poesia após um tempo dedicado à prosa, Márcio constrói uma poética das ausências e da sobrevivência urbana, como quem caminha por entre ruínas em busca de sentido.
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Em Rebeca, o verso é fluido e permeado por imagens aquáticas, como no poema que dá nome ao livro:
“a paisagem é um igarapé / calço teus chinelos / bebes do meu copo / […] mergulho / mergulhas / nos abraça a mesma água”
Já Márcio revela uma escrita densa, que atravessa o ruído das cidades e os silêncios internos, como no poema Maquinaria:
“Hoje abro as janelas da metrópole / e me enoja a maquinaria do ruído. […] / a maquinaria avança como numa marcha / atropela nossos corações […] / anuncia a natureza do caos de tudo.”
Ambos os livros foram escritos no Norte do país, um no Pará e outro no Acre, mostrando a força da nova poesia produzida na região. Eles se somam a uma geração que tem explorado não apenas a estética, mas também os afetos e as geografias que moldam o imaginário amazônico. Entre as águas e os silêncios, surge uma poesia feita de matéria sensível, onde a cidade, o corpo, o tempo e a memória encontram abrigo.
Escrever a correnteza e ver onde dá e Tecido Penumbroso são obras que valem a travessia: apontam caminhos onde a poesia paraense segue viva, vibrante e, acima de tudo, presente.