Hospital realiza 1º transplante intervivos em indígenas

Publicado em 01/07/2022

Mãe e filha da etnia Tembé protagonizaram uma história emocionante no Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém. A paciente Maria Adriane Oliveira, 20 anos, moradora da Aldeia Sede localizada no município de Santa Luzia do Pará, região do Alto Rio Guamá, recebeu um rim, no último dia 22, da mãe Maria Cleia Cruz, 40 anos. A jovem possui uma malformação congênita do trato urinário, descoberta somente quando precisou ser submetida a exames pré-operatórios para tratar um cisto de ovário. Apesar do acompanhamento médico, a função renal agravou, levando-a necessitar de um transplante.

Aos 14 anos, Maria Adriane apresentou problemas de saúde, mas durante a realização de exames de imagem a equipe médica identificou que ela possuía apenas um rim, e que o órgão estava malformado e sobrecarregado. Uma condição que poderia se agravar com o tempo e complicar a saúde da então adolescente. À época, foi encaminhada a outro hospital, onde foi acompanhada até os 19 anos. Apesar dos cuidados recebidos, começou a sentir náuseas, dor de cabeça, sensação de desmaio e foi submetida a uma cirurgia que ajudou a amenizar os sintomas.

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Em junho de 2021, foi encaminhada ao Hospital Ophir Loyola, referência no transplante renal na região Norte, onde deu início aos cuidados e exames necessários ao procedimento cirúrgico de alta complexidade. No mesmo período, passava por hemodiálise na rede conveniada com o SUS. Os testes de compatibilidade sanguínea ABO e HLA (Antígeno Leococitário Humano) realizados na paciente e na mãe, foram favoráveis ao procedimento cirúrgico. Ambas passaram por uma média de 40 exames, incluindo análises do coração, das artérias e da bexiga. O doador precisa estar com a saúde em dia.

“Tive que deixar a aldeia e vir morar em Belém por causa da hemodiálise. Eu fiquei alojada na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), em Icoaraci, porque tinha tratamento três vezes por semana. Foi um período difícil de adaptação, sentia falta do meu lugar, de tomar banho de rio, de comer peixe assado e de tomar açaí”, disse.

O transplante foi um sucesso e Adriane se recupera no Hospital Ophir Loyola, onde segue recebendo cuidados da equipe especializada de Transplante Renal. A mãe, Maria Cleia Cruz, já recebeu alta e está bem de saúde. “Era doloroso demais ver a minha filha abatida, triste e, nesses momentos, eu sempre me afastava e aguardava a minha tristeza comigo para não deixá-la pior. Quando eu soube que poderia, decidi doar, pois sei o que ela passou no último ano e isso era angustiante”, recordou.

Apesar de ficar apreensiva no início, Maria Cleia imaginava que qualquer pessoa que seria submetida a uma cirurgia se sentiria dessa forma. “São incertezas que vêm na cabeça, mas nunca desistiria. O bom mesmo é quando a gente se recupera e sabe que a nossa solidariedade mudou a vida de alguém. Nesse caso, devolvi qualidade de vida para a minha filha e, se eu tivesse mais rins, doaria com certeza”, afirmou Maria Cleia.


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