Bandas paraenses integram coletânea de pós-punk

A organização do Festival Vozes do Abismo está em êxtase com a inclusão de duas bandas pós-punk de Belém do Pará no terceiro volume de “A Divina Tragédia”, uma das mais importantes compilações em vinil de bandas pós-punk e de gothic rock nacionais e internacionais. As bandas paraenses Castelo de Vidro e Bella Valentina foram selecionadas para fazer parte do volume final da trilogia, ocupando o lado B do disco.

Segundo Francisco Oliveira, organizador do festival, a participação das bandas paraenses em “A Divina Tragédia” é motivo de imensa satisfação. O Vozes do Abismo, cuja proposta é apoiar bandas e artistas de diversas vozes, sempre buscando uma estética mais urbana e noir em suas produções, vê nesse feito um reconhecimento do trabalho árduo das bandas locais.

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“No caso da região norte, falando especificamente de Belém do Pará, ainda temos poucas bandas. Embora exista uma certa quantidade de pessoas que gostam do som pós-punk, me parece que há um certo desinteresse desses adeptos em formar bandas, ou deve haver por aqui alguma dificuldade em encontrar músicos que saibam tocar o estilo. Então, a meu ver, ter duas bandas de Belém numa coletânea como ‘a divina tragédia, muito mais do que ser algo inédito, eu acredito que também sirva de incentivo para que novas bandas surjam por aqui, principalmente agora que a coletânea colocou Belém no mapa da cena pós-punk nacional ao lado de grandes bandas do nordeste e do centro-oeste”, disse.

A inclusão das bandas paraenses em “A Divina Tragédia” é vista como um marco para o cenário musical underground de Belém do Pará, e os organizadores esperam que esse feito sirva de estímulo para que novas bandas pós-punk, góticas ou shoegaze se formem na região.

“Eu vejo a participação das bandas Bella Valentina e Castelo de Vidro na coletânea como uma espécie de mensagem para aqueles e aquelas que têm a pretensão de formar a sua banda, sabe, algo do tipo “vamos lá, formem as bandas de vocês!” ou “estão vendo? Tem uma cena esperando novas bandas daqui”, algo assim. É preciso paciência, seriedade, profissionalismo e, muitas vezes, lançar mão de tempo e dinheiro – algo muito caro hoje em dia. Mas, para aqueles que sonham e acreditam, muitos desses problemas podem ser resolvidos quando o público também apoia, ouvindo e divulgando o som que essa galera faz. Então, o reforço da cena pós-punk que temos por aqui não depende somente das bandas, mas também do público. Precisamos avançar, precisamos comparecer a eventos com bandas emergentes da cena. É dessa forma que novas bandas vão surgindo”, completou.

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Darlan Gomes, integrante da banda Bella Valentina, comemorou a importância de participar do terceiro volume da coletânea: “É de grande importância para a cena local e para a Bella, pois é uma realização do trabalho que está sendo reconhecido ao ponto de estar em uma coletânea tão importante, recebemos o apoio e trabalho do produtor e parceiro Franz Oliveira para tal feito. E, pessoalmente, estamos todos animados, de estarmos em um disco físico, muito bem feito e produzido”, comentou Darlan.

O músico também enfatizou que as outras edições da coletânea estão esgotadas e tornaram-se raras, mostrando o sucesso do projeto e das bandas selecionadas. “A coletânea está na terceira edição, as duas anteriores já são discos raros e não se encontra para venda, para essa edição o responsável pelo projeto disse que praticamente mais da metade dos discos já foram vendidos antes de serem entregues pela gravadora, logo isso ajuda demais no nosso trabalho, pois com a distribuição e mídias digitais mais pessoas tem acesso a nossa música e de várias bandas do gênero.”

A DIVINA TRAGÉDIA

O produtor musical criador do projeto, Edson Lemansov, explicou um pouco o conceito dos três volumes da coletânea e a relação dos LPs com os livros de Dante: “A história de Dante Alighieri, onde ele promulga três tomos de livros da qual ele dá base, inclusive, para a igreja católica, na época dele, onde ele propaga a ideia de inferno, purgatório e paraíso. E a sonoridade desses LPs, dos três volumes, casa com cada capítulo, cada episódio do livro. As bandas do primeiro volume, inferno, são realmente mais assim, energéticas, sonoramente falando também, e as letras dão o ambiente de inferno, quando Dante faz a primeira passagem, a seguir o purgatório, para onde vão os condenados, uma segunda chance. E a terceira edição é Paraíso, onde ele encontra Beatriz e aí a visão é mais panorâmica, é um disco mais limpo, mais clean, mais suave, remete então já ao final desses episódios”.

A seleção das bandas para participar dos LPs também foi feita com base nos livros de Dante e como cada sonoridade se correlaciona com o inferno, purgatório e paraíso: “O primeiro volume tem uma banda inglesa, Rangine Freud, tem banda do nordeste e tem banda do sul e São Paulo no sudeste. O segundo volume concentra-se em centro-oeste e aqui a região sudeste, também há uma banda do sul. O terceiro volume já é para cima, né? Tem duas bandas que são apenas do interior de São Paulo, uma de São Paulo, o restante são bandas de Belo Horizonte, Minas Gerais, tem uma de Goiás, e as bandas das regiões norte e nordeste. Aqui a ideia é que também as bandas, eu com o tempo, te passo a sonoridade, os efeitos que elas produzem no LP e o impacto, que por um lado tem simbologia mística e algumas coisas que só com o tempo vão ser observadas nessa trilogia. Quanto ao cenário do norte e nordeste, tive algumas referências buscadas em artigos expostos no YouTube, não conhecia por completo, após pesquisas vimos quão fértil e diferenciada é a cena local, porém carente de produção física.  E isso também impulsionou a ideia de oportunidades”, concluiu.

O terceiro volume da coletânea “A Divina Tragédia” está à venda pelos números: (91) 98105-6778 ou (91) 98012-7916.