Canaã dos Carajás recebe 4ª edição da Mostra Adinkra
Publicado em 11/11/2024
A produção audiovisual paraense é destaque na 4ª Mostra Adinkra de Cinema Afro Amazônico, que ocorre nos dias 12 e 13 de novembro, em Canaã dos Carajás, no Pará. Na programação, serão exibidos curtas-metragens de cinco estados da Amazônia, incluindo as obras de realizadores paraenses: “Zunzunzum do Mar”, de Lu Peixe; “Vicinal a Meia Noite”, de Ícaro Matos; “Meus Santos Saúdam Teus Santos”, de Rodrigo Antonio; e “Samba de Cacete – Alvorada Quilombola”, de André Santos.
A 4ª edição da Mostra Adinkra de Cinema Afro Amazônico ocorre de forma gratuita na Casa da Cultura de Canaã dos Carajás. Além da exibição de curtas, a programação também conta com debates sobre o imaginário na confluência entre a África e a Amazônia.
A curadoria selecionou obras de realizadores do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Mato Grosso. As produções abordam experiências e modos de viver e fazer do povo amazônico, empoderamento feminino, ancestralidade e resistências de comunidades quilombolas, indígenas e de trabalhadores rurais nos assentamentos.
VEJA TAMBÉM
- “Arcane” retorna à Netflix guiada pela humanidade e loucura
- “Ainda Estou Aqui” alcança o topo da bilheteria brasileira
- Última temporada de “Stranger Things” estreia em 2025
Após as exibições serão realizados debates sobre os curtas. O primeiro dia de programação contará com a participação dos cineastas Rafael F. Nzinga e Lu Peixe, diretores da produtora Cine Diáspora. Já o segundo dia, terá a presença do cineasta Ícaro Matos, que é diretor de um dos curtas exibidos na mostra, o “Vicinal à Meia-Noite”.
“Vicinal à Meia-Noite” é um curta-metragem de ficção, baseado nas histórias populares contadas no assentamento Palmares, em Parauapebas, sudeste do Pará, onde o filme também foi roteirizado, produzido e gravado. Ícaro Matos compartilha as peculiaridades do “cinema sem-terra”.
“O cinema sem-terra, do campo, traz sua própria identidade e narrativa protagonizadas pelas pessoas que pertencem a essas histórias”, diz. “A possibilidade de levar a nossa produção para uma mostra de cinema afro-amazônico reforça a importância da presença negra dentro da indústria cinematográfica e serve, também, para trazer e provocar reflexões necessárias, que fortalecem um legado artístico que a gente tem em construção, que parte da juventude do campo”, completa o cineasta.
A Mostra Adinkra de Cinema Afro Amazônico é uma realização da produtora audiovisual Cine Diáspora. Para a produtora, que utiliza do audiovisual para pensar soluções antirracistas e elevar a autoestima do povo negro, o projeto visa destacar as narrativas afro amazônidas em meio a um cenário de desigualdade e subrepresentação no mercado audiovisual brasileiro.
Uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que, entre 1995 e 2018, somente 2% dos filmes brasileiros de maior público tiveram direção de homens negros. Um levantamento do Grupo na História do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2002 e 2023) aponta a predominância de brancos, especialmente homens, em todas as categorias avaliadas.
Para Rafael F. Nzinga, políticas públicas afirmativas, que possibilitam o aumento do número de cineastas negros, têm sido fundamental para mudar esse cenário na região amazônica. “Essas iniciativas não apenas promovem a inclusão, mas também oferecem recursos e oportunidades que permitem a esses artistas expressar suas narrativas e culturas de forma autêntica”.
Quer mais notícias de Cinema? Acesse o nosso canal no WhatsApp
Nzinga ressalta que, ao incentivar a formação e o desenvolvimento de talentos locais, essas políticas ajudam a desconstruir estereótipos e a diversificar as histórias contadas na tela. Assim, a valorização da diversidade no cinema não só enriquece o setor cultural, mas também fortalece a identidade e a visibilidade das comunidades negras na Amazônia.
A Mostra Adinkra de Cinema Afro Amazônico realizou a primeira edição em Belém, em outubro de 2023, e começou a circular pelo Brasil a partir de dezembro do mesmo ano, iniciando em Salvador (BA) e, posteriormente, Brasília (DF). Em outubro deste ano, a mostra realizou a sua primeira edição internacional, em La Paz, na Bolívia, promovendo a internacionalização do cinema afro amazônico. Ao total, a mostra já atraiu um público de mais de 500 pessoas. O projeto foi selecionado pelo Edital Casa Aberta/2024 – Amazônia Paraense.
O que é Adinkra?
A Mostra traz em seu conceito a simbologia dos Adinkras, sistema de escrita pictográfica criado pelo povo Akan, localizado no oeste da África. Os símbolos preservam e transmitem valores fundamentais ligados à cultura africana e inspiraram a curadoria para definir a temática de cada uma das quatro sessões de filmes: Sankofa (buscar o passado para construir o futuro), Ananse (criatividade e sabedoria), Duafe (feminino) e Aya (resistência e desenvoltura).
Veja abaixo a programação:
Sessão Aya (12/11)
“Nome Sujo” – Artur Roraimana (RR): Lucas é um jovem adulto que precisa lidar com a responsabilidade de trabalhar para se sustentar. Quando uma câmera que ele queria muito comprar entra em promoção, o jovem inicia uma busca por meios de realizar seu desejo.
“A Velhice Ilumina o Vento” – Juliana Segóvia (MT): “A Velhice Ilumina o Vento” conta a história de Valda, mulher preta, idosa, periférica e trabalhadora doméstica da cidade de Cuiabá. Mulher forte, cuiabana do “pé rachado”, Valda subverte em seu cotidiano o paradigma da velhice estigmatizada.
Sessão Duaf
“Utopia” – Rayane Penha (AP): A busca de uma filha por histórias vividas pelo pai garimpeiro, que faleceu no garimpo. Arquivos sobre esse pai, fotos, vídeos e cartas que ele escrevia para a família relatando a vivência e as dificuldades do garimpo. O documentário procura humanizar homens que dedicam suas vidas à terra. Mais do que um registro, o filme vem mostrar um relato íntimo e poético sobre a vida desses garimpeiros.
“Zunzunzum do Mar” – Lu Peixe (PA): “Zunzunzum do Mar” é um média-metragem documental que mostra a relação de mulheres negras do estado do Pará com o mar, construindo uma narrativa cartográfica e poética em forma de diálogo entre diferentes gerações.
Sessão Ananse (13/11)
“Vicinal a Meia Noite” – Ícaro Matos (PA): Em “Vicinal à Meia-Noite”, a trajetória de Pedro (Rodrigues Silva) se cruza com a aparição sobrenatural de uma jovem mulher (Yara Xavier), que pede carona para motoristas que atravessam o viaduto construído para interligar uma região do assentamento. A narrativa é baseada em histórias que povoam o imaginário da comunidade Palmares II, assentamento de reforma agrária do município de Parauapebas, uma localidade conhecida por sua força social de luta e organização camponesa.
Sessão Sankofa
“Meu Santos Saúdam Teus Santos” – Rodrigo Antonio (PA): Em uma viagem de regresso à ilha do Marajó, terra de seus avós, Rodrigo conhece a pajé Roxita e recebe a notícia de que têm guias espirituais de herança. Rodrigo vive sua iniciação na pajelança marajoara e registra sua relação com Roxita, que será sua guia num encontro com seus ancestrais.
“Alexandrina – Um Relâmpago” – Keila Sankofa (AM): “Alexandrina – Um Relâmpago” faz do cinema de invenção um campo fértil de contestação, que ousa rasgar os registros do perverso e mentiroso passado. Alexandrina, mulher preta da Amazônia, que antes fora reduzida a objeto de estudo, esvaziada do seu vasto repertório de conhecimento e logo jogada ao limbo do suposto esquecimento, agora é o presente!
“Samba de Cacete – Alvorada Quilombola” – André Santos (PA): O documentário, com 26 minutos de duração, conta a história do Samba de Cacete, uma tradição cultural ainda preservada em comunidades quilombolas do baixo rio Tocantins, Amazônia paraense, que envolve música, canto e dança com elementos dos batuques afro-brasileiros.
Serviço
- Mostra Adinkra de Cinema Afro Amazônico em Canaã dos Carajás
- Data: 12 e 13 de novembro
- Hora: 19h às 21h
- Local: Casa da Cultura de Canaã dos Carajás
true