Equipamentos e aplicativos auxiliam em ações ambientais

Publicado em 22/09/2024

A conservação florestal depende diretamente do correto monitoramento de áreas que, muitas vezes, podem ser bastante extensas. Diante do desafio de proteger tais territórios, algumas ferramentas já disponíveis cumprem um papel essencial na coleta de dados para garantir um melhor monitoramento e gerenciamento de áreas protegidas e sua biodiversidade. São as chamadas tecnologias para conversação, que podem ser desde drones e sensores, até um simples aplicativo instalado em um smartphone.

Especialista em conservação do WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo avalia que o uso da tecnologia tem permitido que as ações de conservação e monitoramento de fauna sejam realizadas de maneira mais efetiva e, ainda, de forma a otimizar os recursos disponíveis. “A tecnologia traz uma maior qualidade nas ações de conservação seja nas diferentes frentes de fiscalização, monitoramento de fauna, pesquisa e outras coisas, otimização de recursos, por exemplo”, considera. “Não precisa enviar uma brigada de 7 brigadistas e caminhar vários quilômetros para apagar um fogo que talvez se extinga de forma natural, dependendo das circunstâncias”.

Osvaldo considera que a tecnologia permite que as decisões possam ser adotadas de maneira mais efetiva e apurada, garantindo melhorias aos esforços de conservação. “O termo tecnologia para a conservação abrange inúmeras coisas, desde a utilização de drones, aplicativos, celular, muitos deles gratuitos que podem ser usados por guardas-parques, agentes de fiscalização, armadilhas fotográficas, sensores acústicos, plataforma de monitoramento, diferentes softwares entre outros”.

Entre as opções de aplicativos gratuitos, a ferramenta SMART (da sigla em inglês Spatial Monitoring and Report Tool, ou ‘Ferramenta de Monitoramento Espacial e Análises’, em português) possibilita coletar, armazenar, comunicar e analisar dados sobre biodiversidade, atividades ilegais e ações de gerenciamento para melhor uso dos recursos.

O software gratuito e de código aberto foi desenvolvido por agências e organizações de conservação instaladas em diferentes regiões do mundo. Desde 2019, a versão em português do aplicativo também está disponível, a partir do trabalho de adaptação e tradução da ferramenta para o português realizado pelo WWF-Brasil. “Consiste numa ferramenta espacial de monitoramento e geração de relatórios. É uma ferramenta que possui uma base de dados adaptável aos diferentes contextos. Tem-se trabalhado com essa ferramenta desde monitoramento de territórios indígenas, em comunidades amazônicas e quilombolas, inclusive ajudando na gestão de usos públicos em alguns parques nacionais”, explica. “A gente vai adaptando a ferramenta, o software, que podemos construir um modelo de dados a partir de parâmetros pré-definidos, escolhendo o tipo de informação que se quer levantar”.

O especialista explica que a modelagem do aplicativo é relativamente simples e possibilita que equipes de fiscalização, guarda-parques, monitores indígenas e pesquisadores possam usar a ferramenta respondendo as perguntas definidas previamente. “Vou dar um exemplo: o software identificou uma área com desmatamento, a ferramenta como está sendo customizada para esse fim, permite qualificar o tipo de desmatamento, a área, diferentes ações relacionadas ao desmatamento, que tipo de ação é possível tomar, qual é o próximo passo. Esses dados que são levantados e geram relatórios com infos que fortalecem a ação de monitoramento, quantos quilômetros foram percorridos, os locais geográficos, aparece um mapa com os pontos”.

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A ferramenta tem sido amplamente utilizada em diferentes países. Osvaldo Barassi Gajardo cita o exemplo da Colômbia, que institucionalizou o software em um sistema de áreas protegidas como uma ferramenta oficial para o monitoramento de pressões, ameaças e de biodiversidade; assim como casos de países na África e na Ásia que utilizam a ferramenta para ações de monitoramento e fiscalização. “Aqui no Brasil implementamos com o apoio da secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amazonas para desenvolver um modelo pro sistema e hoje existe uma plataforma onde os gestores ambientais podem começar e já estão aptos a coletar informações sobre pressões e ameaças principalmente”, explica. “Mas, também temos feito capacitação em territórios indígenas, como por exemplo em algumas áreas indígenas de Rondônia, onde os próprios monitores indígenas utilizam a ferramenta para identificar pressões e ameaças e possíveis situações de conflito e, isso permite uma melhor qualidade do dado e posteriormente uma denúncia institucional”.



O especialista em conservação do WWF-Brasil reforça que a ferramenta pode ser utilizada por pesquisadores para estudar algumas espécies de animais, pode ser utilizada por guarda-parques, gestores de unidades de conservação, por territórios indígenas e até por grupos que tenham interesse em coletar dados, como por exemplo, pontos de contaminação em determinada área.

Para que esses e outros usos da ferramenta sejam possíveis, ele explica que, primeiro, se deve construir um modelo de dados de forma participativa com a comunidade ou grupo, conforme a necessidade de quem está solicitando a utilização da ferramenta. Neste momento, é importante responder à pergunta ‘o que eu quero monitorar – caça, desmatamento ilegal, invasões, incêndios, etc.

Num segundo momento, há a necessidade de aquisição dos equipamentos, o que envolve ter um bom celular que tenha capacidade de coletar dados. Além disso, é necessário fazer o treinamento da equipe. “O primeiro treinamento é feito sobre o usuário, sobre quem utiliza a ferramenta, com uma capacitação sobre o uso da ferramenta no telefone, como vou coletando dados, registrando pontos e coordenadas, etc. Existe um segundo treinamento, mais avançado para quem faz a gestão desses dados e que permite tomadas de decisão mais consistentes, permitindo geração de relatórios sobre pressões e ameaças na área, realizar a elaboração de relatórios específicos; E, ainda um terceiro nível de treinamento mais específico que é para quem precisa mexer na plataforma, fazer a modelagem de dados, construir um modelo e cruzar informações”.

Em resumo, Osvaldo reforça que, no primeiro momento, é necessário um esforço de construção conjunta para a elaboração de um modelo de dados; depois a capacitação para ferramentas no nível do usuário; um aprofundamento para quem precisa gerir a informação, e por fim, uma capacitação para quem quer construir o processo como um todo. “O interessante da ferramenta é que é de muito fácil manipulação, é um software gratuito, construído por várias ongs, entre elas o WWF, o que tem permitido que seu uso tenha alcance em vários países”.




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