Escolas de samba vão a Parintins buscar “tecnologia cabocla”

Publicado em 04/07/2024

O alto escalão do Carnaval esteve no último fim de semana no Festival Folclórico de Parintins, que acontece anualmente na cidade homônima localizada a 370 km de Manaus.

O presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liesa), Gabriel David, posou ao lado de diretores da Grande Rio em fotos nas redes sociais, e Tarcísio Zanon, carnavalesco da Viradouro, atual campeã do RJ, também foi ao evento.

Eles estavam a trabalho. Há mais de duas décadas as escolas de samba fazem referências e, principalmente, levam artesãos parintinenses para “dar vida” às alegorias carnavalescas do Sudeste.

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Os desfiles do Carnaval acontecem em uma avenida; as apresentações de Parintins, em uma arena. Como andam menos para a frente, os espetáculos de Parintins apostam em um leque mais variado de movimentos e dinâmicas cenográficas.

“Eles dão movimentos a esculturas articuladas, dentro do que os próprios parintinenses chamam de ‘robótica cabocla'” diz Zanon, da Viradouro. “São cabos de aço e elásticos tensionados que permitem às estruturas alegóricas dar vida aos elementos. Uma tecnologia criada em Parintins que contribui muito para o desfile das escolas de samba.”

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Os trabalhadores de Parintins “elevam a qualidade dos desfiles”, segundo Alexandre Furtado, presidente da paulistana Império de Casa Verde. “Adotamos desde 2005 a participação desses profissionais, cada vez mais intensa nas definições dos projetos alegóricos”, conta.

Especialistas citam 1998 como o ano em que foi construída a maior ponte entre as duas festas, que antes faziam trocas culturais tímidas.

Naquele ano, o Salgueiro levou para avenida o enredo “Parintins, a ilha do boi-bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido”, com artistas parintinenses participando diretamente das criações.

Desde então, dirigentes do Carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro contratam os artistas do Norte por um diferencial que o Sudeste ainda não consegue replicar, segundo Aydano André Motta, jornalista e biógrafo de escolas de samba.

Ele avalia, contudo, que nas agremiações há uma segregação entre o trabalho mecânico, desempenhado pelos artistas do Norte, e o criativo, concentrado nos criadores das próprias escolas.

“As escolas de samba não se preocupam em aprender as técnicas deles, não investem em formação e têm que contratá-los o tempo todo. Não há trocas de tecnologias. É uma contratação como serviço”, diz. “O artista de Parintins é subaproveitado nos carnavais do Sudeste, diante do que é feito no Norte. É mais um no barracão, mesmo tendo estudado muito mais”, critica.

Eli Pereira Natividade, 41, é artista plástico do Boi Caprichoso, em Parintins, e da Império de Casa Verde, em São Paulo. Ele faz parte do grupo de trabalhadores que atravessa o país sazonalmente desde os anos 1990 por causa das duas festas.

“Saindo daqui de Parintins a gente vai para São Paulo fazer Carnaval. De lá, já voltamos para fazer Parintins. É a trajetória do ano todo”, conta.

“É inexplicável o que a gente faz aqui [Parintins]. Essa parte do movimento das alegorias é o que dá vida para as escolas de samba.”

O Boi Caprichoso venceu na última segunda-feira (1°), pelo terceiro ano consecutivo, o Festival de Parintins. É a 26ª vitória do boi azul no festival, contra 32 do rival Garantido.


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