Já sabia? Travessa 14 de Março, em Belém, já foi um igarapé

Publicado em 18/01/2025

A travessa onde, atualmente, transita uma enorme quantidade de carros diariamente já deu lugar a uma ramificação do Igarapé Murutucu, o rio onde a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré foi encontrada pelo agricultor e caçador Plácido José de Souza. Ainda em meados de 1700, o cenário avistado no entorno do que hoje é Complexo Arquitetônico de Nazaré era marcado por uma área de fazendas e o igarapé ali presente seguia o seu curso em meio à mata e dobrava na hoje travessa 14 de Março, uma das principais travessas do centro da cidade e que ajuda a contar parte da história de Belém.

Os relatos históricos dão conta que na época do achado da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, o famoso Igarapé Murutucu seguia pelo que hoje se conhece como avenida Magalhães Barata e, em meio à mata, fazia uma curva na atual travessa 14 de Março. Neste sentido, ainda que não se conheça o ponto exato onde a imagem original teria sido encontrada por Plácido, acredita-se que o achado tenha se dado no entorno de onde hoje se vê a lanchonete Mc Donald’s de um lado e os fundos da Basílica Santuário de Nazaré de outro, nesta curva da avenida Magalhães Barata para a 14 de Março.

Segundo conta a tradição, após o achado da imagem às margens do Murutucu, a Santa foi levada por Plácido para a sua casa. Porém, a imagem teria retornado para o local de origem, no igarapé. Diante do fato recebido como um milagre, o caçador decidiu construir a morada da imagem no local onde ela foi encontrada. Era o primeiro vestígio do que posteriormente veio se transformar na Basílica.

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Em um primeiro momento, a cobertura foi feita de palha e posteriormente deu lugar a uma igreja que tinha suas torres voltadas para o igarapé. Apenas em 1909 a Basílica de Nazaré começou a ser construída, já sem a presença do Igarapé do Murutucu. Apesar do desaparecimento do rio, aterrado com o tempo e com o desenvolvimento, ainda hoje é possível ver um último vestígio do igarapé em que foi encontrada a imagem, o canal da travessa 14 de Março.

O historiador Rudivaldo Souza lembra que o processo de ocupação e urbanização de Belém se desenvolveu de forma desordenada no espaço urbano, sendo marcado pela migração de pessoas para a capital em busca de melhores condições de vida. Como consequência, se observou um grande inchaço populacional em Belém, o que não foi diferente nas proximidades da igreja de Nossa Senhora de Nazaré, que com o passar do tempo passou por uma organização gradativa do espaço urbano.

“O Largo de Nazaré, que hoje é a Avenida Nazaré, era conhecido como Caminho da Utinga. Com o tempo, o Largo de Nazaré se transformou na Avenida Nazaré, um dos principais eixos da cidade”, aponta. “Em 1982, o Largo de Nazaré, com seus coretos peculiares e pavilhões armados para o arraial, a Praça Santuário que faz parte do Conjunto Arquitetônico de Nazaré (CAN), com suas linhas modernas, gradil, altar-central, concha acústica. Sua inauguração aumentou o espaço para as apresentações de artistas locais e nacionais no período das festividades do Círio, com sua concha acústica transformando-se em espaço para a apresentação da cultura paraense durante a quinzena festiva do arraial”.

Dentro deste contexto, a travessa 14 de Março, que passa aos fundos da Basílica, também foi se estruturando, correspondendo hoje a uma das principais travessas no centro da cidade e prestando homenagem à imperatriz consorte do Império do Brasil, Thereza Christina. “A travessa 14 de Março é uma homenagem à data de nascimento (14 de março de 1822) da Thereza Cristina, esposa de dom Pedro II, que em 04 de abril de 1876 visitou a capital paraense”, explica o professor Rudivaldo Souza. “A Thereza Christina, princesa do Reino das Duas Sicílias, no Palácio Real, Nápoles (Itália), faleceu na cidade de Porto em Portugal, em 28 de dezembro de 1889. Ela foi imperatriz consorte do Império do Brasil, com reinado de 30 de maio de 1843 a 15 de novembro de 1889. Ela era filha do rei Francisco I, no ramo italiano da Casa de Bourbon”.

Mantendo essa referência até os dias de hoje, a travessa segue apresentando uma importância fundamental para o tráfego na cidade de Belém e abriga, inclusive, um importante serviço de atendimento de saúde da população, o Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, inaugurado em 1921.

Quando a aposentada Neuza Fernandes, de 83 anos, nasceu na casa onde mora até hoje na travessa 14 de Março, o hospital centenário já se fazia presente. Ao longo do tempo em que ela mora na travessa, as principais mudanças observadas ficaram por conta do trânsito de veículos, cada vez mais intenso. “Eu nasci aqui e acho que é uma boa rua para se morar. É perto de tudo, tem o PSM se a gente precisar de uma urgência, então é muito bom”, recorda. “O que mudou muito foi o trânsito, que está mais movimentado do que nunca. O que eu lembro que tinha e não tem mais, também, era a batalha de confetes no tempo do carnaval, isso se perdeu. Muita gente também já se mudou daqui, outros faleceram, gente nova chegou”.

Entre os antigos moradores da travessa, a também aposentada Otacinéia da Costa, 80 anos, segue na 14 de Março. Desde que ela se mudou para lá, se tornando vizinha de Neuza, já se vão 60 anos. “Aqui é muito bom porque é bem localizado. O ruim é só o barulho dos carros porque tem hora que o trânsito complica e é uma barulheira, mas fora isso é muito bom. Antes o sentido da rua era o contrário, depois que mudou pro que é agora”.

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RESQUÍCIO

Apesar do desaparecimento do antigo Igarapé Murutucu, aterrado com o tempo e com o desenvolvimento, ainda hoje é possível ver um último vestígio do rio em que foi encontrada a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré em 1700, o canal da travessa 14 de Março.


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