O campo aliado do meio ambiente

Publicado em 16/07/2023

A metodologia escolhida para cultivar uma ou várias culturas pode influenciar a maior retenção de carbono no solo, o que evita que mais CO2 seja emitido para a atmosfera. Entre as possibilidades disponíveis e que podem contribuir com essa manutenção do carbono no solo está uma tecnologia sustentável que é uma das mais conservacionistas para se trabalhar a terra para fins agropecuários e na qual o Brasil é referência, o Sistema de Plantio Direto.

O agrônomo, doutor em ciências do solo e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Capanema, Daniel Pinheiro, explica que a diferença entre o Sistema de Plantio Direto e o sistema de preparo convencional do solo é que, neste segundo modelo, o solo é revolvido pelos processos de aração e gradagem, o que dificulta a retenção do carbono na terra. “Quando o solo é intensamente revolvido, isso faz com que os micro-organismos do solo decomponham a matéria orgânica. Só que a matéria orgânica é composta por carbono e esse carbono que está na matéria orgânica é convertido em CO2 e passa para a atmosfera”, explica. “Já no Sistema de Plantio Direto o processo é diferente”.

 











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Daniel Pinheiro explica que o Sistema de Plantio Direto é baseado em três pilares. O primeiro é a ausência de revolvimento do solo; o segundo é a presença de palhada, ou seja, de resíduos das culturas que ficam sobre a superfície do solo; e o terceiro é a sucessão e a rotação de culturas. Todos esses pilares, de alguma forma, contribuem para a retenção de carbono. “Se eu não vou revolver o solo, eu não vou provocar uma combustão acelerada da matéria orgânica, o que faria com que o carbono fosse convertido em CO2 e passasse para a atmosfera”.

Já se ocorre a adição de palhada sobre a superfície do solo, através dos resíduos das culturas utilizadas, essa palhada se torna uma fonte de carbono no solo. “Ela vai se transformar em húmus e é aí que ocorre a mágica no solo. Essa matéria orgânica tem a capacidade de se associar com os minerais do solo, então, nós dizemos que essa matéria orgânica vai ficar protegida fisicamente. Ao invés desse carbono estar na forma de CO2 na atmosfera, ele vai ficar, agora, retido na forma de húmus que vai estar ligado às partículas sólidas do solo, principalmente à argila. Quem possibilita isso é a palhada na superfície”, explica o agrônomo, ao apontar também os benefícios do terceiro pilar do Sistema de Plantio Direto. “E quando eu venho com a rotação e a sucessão de culturas, são vários cultivos que vão estar sendo realizados no solo e, com isso, o solo não vai ficar exposto. O fato de se ter constantemente espécies vegetais ali naquele local, durante todo o ano, faz com que constantemente as raízes e as partes aéreas dessas plantas fiquem fornecendo matéria orgânica, melhorando a adição de carbono orgânico no solo”.

Nesse sentido, o professor pontua que o que pode levar a um aumento de CO2 na atmosfera é justamente o revolvimento, a aração e a gradagem características dos sistemas tradicionais de cultivo, assim como a prática da monocultura. “A monocultura é um problema. Por exemplo, se você pegar a monocultura da soja, você vai ver que ela é péssima para o solo porque a soja tem pouca adição de matéria orgânica no solo. Então, depois de cultivar a soja é preciso que o próximo cultivo após ela seja de uma cultura que forneça essa palhada”, considera. “Por exemplo, o milho forma muita palhada, a pastagem, essas gramas forrageiras vão adicionar muita palhada no solo também. Então, quando se tem muita presença de palhada no solo, se tem a entrada de carbono no solo e, mais do que isso, esse carbono vai ficar estocado, armazenado e vai estar associado ao que a gente chama na ciência do solo de ‘carbono associado aos minerais’. Isso faz com que esse carbono fique preso, retido no solo”.

No que se refere à região amazônica e ao Estado do Pará, o agrônomo considera que uma das melhores formas de aumentar a manutenção do carbono no solo são os Sistemas Agroflorestais porque, neles, se pode ter tanto espécies frutíferas, como espécies de valor econômico para a produção de madeira. “O consórcio dessas culturas também favorece constantemente a adição de matéria orgânica no solo. A floresta constantemente está jogando resíduos orgânicos no solo e eles vão se transformar em matéria orgânica e isso vai melhorar as propriedades químicas e físicas do solo. Então, nós temos que imitar o que a floresta faz”, aponta Daniel. “É importante sempre ter sistemas de produção agrícolas que favoreçam a adição de carbono no solo porque a manutenção desse carbono no solo melhora a agregação do solo”.

 











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Além de proporcionar um benefício econômico ao produtor que precisa vender a sua produção, o professor destaca que a agregação do solo também contribui com uma segunda função ecológica importantíssima, na medida em que quanto mais agregado o solo estiver, ou seja, quanto mais fofinho ele estiver, melhor vai ser a infiltração de água. “O solo é uma grande caixa d’água, então, se o solo está bem poroso, quando chover essa água vai infiltrar, vai ficar armazenada no solo e vai abastecer também o lençol freático. Consequentemente, com essa água abastecida no lençol freático, os igarapés não vão secar, as lagoas não vão secar”.

No efeito contrário, o professor esclarece que quando se revolve o solo e se pratica a monocultura, o que se gera é uma compactação do solo. O solo compactado é denso, tem poucos poros, portanto, quando a água da chuva cai sobre a superfície do solo compactado, ao invés de a água infiltrar, ela começa a escoar sobre a superfície e começa a se formar a erosão.” E aí surge outro problema porque, com a erosão, a terra vai se degradando, vão assoreando os igarapés e os rios, e vão surgindo vários outros problemas”.

Outra função importante do carbono no solo, segundo aponta Daniel Pinheiro, é que ele gera uma carga elétrica que retém os nutrientes dos adubos. Nesse sentido, quando se tem pouca quantidade de matéria orgânica no solo, ao se fazer uma aplicação do adubo, parte é absorvida pela planta e outra parte é lavada. “Se eu aumento a matéria orgânica, esses nutrientes dos adubos ficam retidos na matéria orgânica e depois eles são liberados para a planta, então, eu tenho um aumento na eficiência da adubação, o que é ótimo para o produtor”.

Para que o Sistema de Plantio Direto e todos esses benefícios proporcionados por ele através da manutenção do carbono no solo estejam mais presentes no Estado do Pará, o professor destaca que é preciso vencer o desafio de se desenvolver mais pesquisas na área. “Um desafio para a nossa região é o de investimentos em laboratórios de solos e em pesquisas para escolher as plantas certas para colocar na nossa sucessão e rotação de culturas”, explica. “A maior parte das plantas que a gente utiliza são, por exemplo, de São Paulo, de Minas Gerais, porque nesses estados muitas pesquisas já foram realizadas, mas aqui na Amazônia e principalmente no Pará, precisamos fazer mais experimentos para chegar a um grupo específico de plantas, de leguminosas que sejam adaptadas para a nossa condição climática, para a gente desenvolver o nosso próprio pacote tecnológico. Ou seja, o que precisa é refinar o Sistema de Plantio Direto”.

 











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