O primeiro contato com a ciência eles nunca esquecerão
Publicado em 11/05/2024
Na instituição que desde 1866 se dedica ao estudo científico dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), crianças e jovens com idade entre 9 e 16 anos têm a oportunidade de ter o primeiro contato com o fazer científico. Há mais de duas décadas, a ação educativa ‘Clube do Pesquisador Mirim’ ajuda a despertar o interesse das novas gerações pela ciência e, em alguns casos, planta uma semente que segue sendo cultivada pelos participantes mesmo depois de encerrado o ciclo no clube.
Educador do Serviço de Educação do Museu Paraense Emílio Goeldi e coordenador do Clube do Pesquisador Mirim, Luiz Videira já perdeu as contas de quantos participantes do projeto decidiram seguir a carreira científica na vida adulta. Nos 27 anos de existência do clube, cerca de 4.400 alunos já passaram pelo projeto, sendo que muitos desses permaneceram por alguns anos. Ele conta que ex-alunos do clube, após entrar na faculdade, participam do processo seletivo e se tornam estagiários do museu.
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“Muitos alunos atuaram como estagiários, como bolsistas no serviço de educação, outros foram para as áreas de pesquisa do museu, outros conseguiram estágios em outras instituições e mais de 40 que passaram por aqui já são doutores e estão espalhados, inclusive, pelo mundo nas áreas de pesquisa”, estima. “Você encontra vários doutores que passaram pelo Clube do Pesquisador Mirim na USP, em outros países como China, Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos. Esses são só os que eu tenho conhecimento”.
O projeto que hoje acumula exemplos positivos do impacto que a iniciação científica pode proporcionar para crianças e jovens surgiu ainda em 1997 e, desde então, segue o objetivo principal de estimular nas crianças o interesse pela ciência, usando como base as áreas de atuação do Museu Goeldi, que são a zoologia, a botânica, as ciências humanas, as ciências humanas e as ciências da terra. “Como nós oferecemos, a cada ano, temas diferentes, as estratégias para desenvolver o assunto são diferentes também”, explica Luiz Videira.
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Inicialmente, na primeira etapa das atividades do clube, os estudantes são apresentados ao próprio Museu Goeldi, no que se chama de ‘reconhecimento da instituição’. “A gente faz as primeiras aulas chamadas de reconhecimento da instituição, onde a gente vai apresentar as áreas de pesquisa, o Parque Zoobotânico, ou seja, onde o museu atua. Essa apresentação a gente faz por meio de diversas dinâmicas, por exemplo, a gente faz seminários, onde a gente esconde determinados objetos no parque e eles vão procurar, como uma flecha, uma peça arqueológica, uma ave taxidermizada, uma rocha”.
Luiz conta que, nesses casos, os participantes do clube são convidados a procurar esses objetos que foram espalhados pelo parque e, ao encontrarem, eles fazem uma descrição do material. “Por exemplo, se eles acham uma rocha, eles vão dizer o que é aquilo e o técnico fala as características daquela rocha, que é uma rocha metamórfica, que pertence à coleção da área de Ciências da Terra, o que as Ciências da Terra estuda. Este é o primeiro momento, que é o contato do Pesquisador Mirim com a instituição”.
Num segundo momento, os alunos são introduzidos ao tema que eles vão trabalhar durante o projeto. Se, por exemplo, a turma vai estudar aves da Amazônia, os instrutores primeiro falam sobre as aves de um modo geral, sobre a morfologia, o comportamento, o tipo de bico, a relação dela com o ambiente e, posteriormente, vão sendo introduzidos os temas mais específicos e é aí que os alunos começam a participar das atividades de acordo com o interesse de cada um.
O terceiro momento já é a produção de um material, ou seja, do resultado das pesquisas realizadas. “A partir do que nós estudamos, a gente vai começar a elaborar o produto final da nossa turma. É como se fosse o TCC deles, só que esse TCC é em forma de um jogo, de um material educativo como uma cartilha ou um kit”, explica o coordenador. “Então, neste momento a gente começa a discutir o que a gente vai fazer com o conhecimento produzido. A gente começa a discutir para elaborar o produto final. A partir do momento em que esse produto final já está elaborado, a gente começa a confecção dele. A partir da confecção, a gente já passa para a apresentação dos resultados, onde nós vamos apresentar ao público em geral, através de uma amostra de todos esses materiais, e onde a gente vai entregar os certificados para os participantes”.
Geralmente, o Clube do Pesquisador Mirim inicia em maio, após a divulgação do resultado dos participantes que foram selecionados a partir do edital, e segue até julho, quando é feita uma pausa para as férias. Após essa pauta, as atividades retornam em agosto. Dessa forma, a cada ano é feito um novo ciclo de turmas e os alunos que já participaram de turmas anteriores, podem participar novamente. “Nós estamos com três turmas, com os temas ‘Alerta amazônico’, ‘Dia a dia das aves’ e ‘Mundo dos invertebrados’. Só que como a demanda foi muito grande, resolvemos criar uma turma extra na segunda-feira, onde nós vamos colocar os alunos veteranos e que já estão há mais tempo aqui”, explica Luiz Videira, ao pontuar que o perfil dos estudantes que participam do clube é bem diverso. “Temos alunos de escolas públicas e de escolas particulares, temos alunos autistas, alunos com TDAH, temos alunos com dificuldades de fala e temos alunos de 9 até 16 anos, que são colocados em turmas diferentes”.
A estudante do 3º ano do ensino médio Vitória Cavalcante, 16 anos, não só gostou da experiência como hoje pensa em seguir uma profissão sobre a qual pode aprender mais dentro do projeto. “Sempre amei museus e exposições, pois é uma forma não somente de adquirir conhecimento, como também dependendo do museu, conhecer culturas novas e outras formas de vida. E com isso, o museu só intensificou o amor que eu tenho pela ciência, comunicação e a área de pesquisa no gera”, lembra, ao contar que pretende seguir a carreira científica. “Me apaixonei por Museologia, já era totalmente apaixonada por museus e exposições e o museu Goeldi fortaleceu esse amor. Eu quero me aprofundar no estudo cultural e social”.
Ao destacar as áreas que conheceu no projeto e que mais lhe marcaram, Vitória lembra das ciências biológicas, como botânica e zoologia, e das ciências humanas e sociais. “Foi uma experiência única na qual eu entendi como funciona alguns métodos de pesquisa e comecei a usar no dia a dia com a escola, perdi o medo de falar em público além de conseguir me expressar melhor, melhorei na forma em que escrevo através das pesquisas feitas, e também no desenho e ilustração, já que todas as imagens e desenhos dos kits e produtos finais são feitas pelos alunos, além de todos os textos”, recorda, ao explicar porque considera importante que, assim como ela, outras crianças e os jovens tenham a oportunidade de ter esse contato mais próximo com a pesquisa e a ciência.
CLUBE
Em 2023, o Clube do Pesquisador Mirim atendeu um grupo de 100 estudantes selecionados de um total de 235 inscrições. Ao longo desse período, eles desenvolveram atividades relacionadas ao estudo das temáticas: “Interações amazônicas”, “Retratos da Amazônia”, “Fauna e flora do Museu Goeldi” e “Mundo amazônico”. As pesquisas resultaram na elaboração de kits educativos, cartilhas e um jogo digital.
Neste ano de 2024, as temáticas trabalhadas serão: “Alerta amazônico”, “O dia a dia das aves” e “O mundo dos invertebrados”, atendendo turmas do 4º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O resultado da seleção foi divulgado na última quinta-feira (09/05) e as aulas começam já nesta próxima semana.
Fonte: Ascom Museu Paraense Emílio Goeldi.