O que esperar da turnê dos Titãs que vai passar por Belém

Publicado em 01/05/2023

Um grupo de amigos músicos na casa dos 60 anos se
reencontra para tocar, como fizeram pela primeira vez quando tinham 20 e
poucos. A reunião, marcada pela camaradagem e cumplicidade de quem cresceu
junto, exige mais do que o que cabe nos ensaios. “Criamos um grupo de
WhatsApp”, conta, entre risos, Paulo Miklos, um dos “Titãs”.

O grupo foi criado como um marco da reunião de
Miklos, Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Sérgio Britto
e Tony Bellotto para a turnê “Titãs Encontro”, que terá 21 shows
espalhados por 17 cidades brasileiras e por Lisboa, em Portugal.

A formação clássica só não está completa pela
ausência de Marcelo Fromer, morto em 2001. A última reunião foi há 30 anos. A
estreia é nesta quinta-feira (27), no Rio de Janeiro, para uma Jeunesse Arena
lotada. Em 16, 17 e 18 de junho, eles se apresentam no Allianz Parque, em São
Paulo, com as duas primeiras datas já esgotadas.

Mais do que um espaço para resolver questões
práticas do show, o grupo de WhatsApp é um atestado do clima de amizade e
alegria que marca o reencontro. “O ambiente está muito gostoso, com todo
mundo empolgado. Volta e meia alguém escreve ali: ‘Como isso está me fazendo
bem'”, afirma Miklos.

“Esses ensaios têm sido
rejuvenescedores”, diz Arnaldo Antunes. “Antes de sermos uma banda,
fomos uma turma de escola, no meio dos anos 1970, quando nos conhecemos.
Depois, seguimos nos encontrando, compondo, realizando outros projetos, até a
formação da banda em 1982. Tem muita história, com lembranças de todo esse
período de amizade e criação conjunta.”

A ideia da turnê “Titãs Encontro” é
celebrar a primeira década de banda, na qual todos eles estavam juntos -Arnaldo
foi o primeiro a sair, em 1992. Daí vem a preocupação com a forma como a banda
vai soar no palco.

A ideia é que seja o mais fiel possível à
sonoridade que eles criaram juntos na década de 1980. “As características
de cada um ajudaram a definir a estética da nossa música. Os coros, a forma
como nos completamos. É isso que vamos levar para o show”, afirma Miklos.

“Sérgio Britto foi buscar teclados
característicos da época, por exemplo. E, como Liminha está fazendo as
guitarras de Marcelo [Fromer], a gente dá uns toques, explicando como ele
tocava, como soava”, acrescenta Miklos, que voltou ao saxofone depois de
20 anos. “Falei com eles que seria complicado, que não é como andar de
bicicleta, que você não esquece. Mas quer saber? É como andar de bicicleta,
sim! Depois dos engasgos iniciais, fluiu perfeitamente. Lembrei de tudo.”

A reunião para a turnê, Arnaldo explica, trouxe à
tona o frescor dos primeiros anos. “Esse espírito de grupo, as piadas, os
códigos, a intimidade, parece que permaneceu intacto. É como se, além de
estarmos celebrando nosso reencontro, estivéssemos também nos reencontrando com
um período muito fértil e feliz de juventude.”

A espinha dorsal do show é o repertório dos álbuns
dos anos 1980, como “Cabeça Dinossauro”, de 1986, “Jesus Não Tem
Dentes no País dos Banguelas”, de 1987, e “Õ Blésq Blom”, de
1989. Além de terem vários dos maiores sucessos da banda, como “Bichos
Escrotos”, “Comida” e “Flores”, esses discos
equacionam a tal sonoridade característica do grupo.

“Os dez primeiros anos foram incríveis
principalmente pelos discos magistrais que gravamos”, afirma Nando Reis.
“Em oito anos, lançamos sete discos, todos muito bons. Eles resumem a
força de nossa união.”

“Cada canção dos Titãs tem seu argumento, sua
temática”, acrescenta Charles Gavin. “Elas são muito diferentes entre
si. E como diz a frase da estrofe de ‘Miséria’, riquezas são diferenças.”

O repertório não se limita, porém, às canções da
primeira década. “É claro que não vão faltar hits de outros discos mais
recentes, como ‘Epitáfio'”, diz Miklos. Lançada em 2001, pouco depois da
morte precoce de Fromer, a canção que tem como tema a brevidade da vida passou
a ser associada ao guitarrista, que receberá uma homenagem no show, com a
participação da filha do músico, a cantora Alice Fromer.

“A palavra saudade tem grande significado
quando penso em Marcelo. Que falta ele faz”, diz Reis. Já Miklos nota que
Fromer ajudou a construir o som da banda e é autor de muitos sucessos.
“Sempre que tocarmos ele estará presente.”

A ideia da turnê começou a ser ventilada para a
celebração dos 40 anos da banda, em 2022. O marco é o primeiro show, no Sesc
Pompeia, em outubro de 1982. No entanto, com as incertezas provocadas pelo
cenário de pandemia, eles não puderam planejar a reunião a tempo de estrear no
ano da data redonda.

Até porque o projeto era mais ambicioso do que os
outros reencontros que já tinham feito, por reunir todos ao mesmo tempo agora,
como eles brincam se referindo ao título do disco “Tudo ao Mesmo Tempo
Agora”, de 1991. No “Acústico MTV”, que celebrou os 15 anos dos
Titãs, Arnaldo estava, mas como um convidado entre outros.

A banda se diz ansiosa pela oportunidade de tocar
para um público mais jovem, que nunca pode vê-los juntos no palco, além de dar
a chance aos antigos fãs relembrarem a força dessa formação, com telões e
efeitos visuais.

A manutenção do espírito dos primeiros anos,
destacada por todos, convive com a bagagem dos anos, ou melhor, das décadas que
separam aqueles jovens músicos dos artistas de hoje. “A maturidade
facilita bastante”, afirma Miklos. “Ela traz o desejo de conseguir
acordos, chegar a soluções, planejar juntos, de uma maneira muito tranquila,
diferentemente de quando se é mais novo.”

“Tem sido um misto da alegria de revistar a
aventura toda, as memórias, e ao mesmo tempo termos cada um toda uma série de
experiências que vivemos em separado e podemos conversar sobre. Temos muita
curiosidade pelos outros. Estamos cheios de novidades para trocar”, afirma
Miklos. É como meninos que se encontram em um pátio da escola.


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