Projeto prevê uso da maconha como biocombustível

Publicado em 06/04/2025

Transformar a maconha apreendida em biocombustíveis e outros produtos de valor agregado é uma abordagem inovadora que não apenas ajuda a reduzir o impacto ambiental, mas também pode otimizar os recursos da Polícia Federal.

Essa possibilidade vem sendo desenvolvida há dois anos num estudo das universidades Federal do Pará (UFPA) e de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Polícia Federal e denominado “Cannabiocombustíveis: Biocombustíveis da Cannabis sativa L.” que une, num mesmo projeto, inovação e sustentabilidade, mostrando que é possível encontrar soluções criativas para problemas complexos.

A transformação da biodiversidade em produtos úteis, enquanto se combate ao crime, é um grande passo para uma abordagem mais abrangente na gestão de drogas. Além disso, a possibilidade de produzir biofiltros para comunidades isoladas e gerar energia a partir do biogás é uma forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável das regiões afetadas. Todo o processo é realizado no Laboratório de Química da Superintendência da Polícia Federal no Pará, onde a maconha apreendida é transformada em bio-óleo.

Antônio Canelas, perito criminal da PF, que planejou e construiu o laboratório, diz que uma grande quantidade de maconha é apreendida pela corporação anualmente e todo o produto é incinerado. “Foi aí que percebemos que, através de conhecimento técnico, através do processo de pirólise, podíamos fazer essa incineração e uma maneira controlada e criar bio-óleo e biocombustíveis além de outros produtos de valor agregado”, destaca o perito.



A pirólise é a decomposição térmica em baixa presença de oxigênio, onde é possível criar biocombustíveis como gasolina e diesel verdes, além de biogás e biocarvão, que pode ser usado em sistemas de filtragem e até na agricultura, reduzindo o uso de fertilizantes nas plantações. “São produtos de valor agregado que vão inclusive nos dar créditos de carbono e que não poluem a atmosfera, já que tudo que é produzido a partir do processo pode ser reaproveitado”, justifica o perito.

O processo acontece dentro de um pequeno reator montado no laboratório onde a droga e colocada e aquecida a uma temperatura que pode atingir 500 graus. O resultado da decomposição da maconha é um bio-óleo, escuro e denso que, após destilado, pode produzir querosene, gasolina e diesel verdes. É possível processar mais de mil quilos da droga em 24 horas, dependendo do tamanho do reator.

A pesquisa encontra-se em fase de ajuste para garantir um melhor rendimento e a qualidade do bio-óleo produzido, mas outros produtos podem ser produzidos a partir da quebra da molécula da maconha, o que garante um aproveitamento de 100% da matéria-prima, reduzindo os custos logísticos da PF.

“Acreditamos que daqui a mais ou menos um ano, em março do ano que vem, possamos chegar a bons parâmetros com um bio-óleo de melhor qualidade e com bons índices de hidrocarbonetos e a um menor custo energético para aumentar a escala de produção em etapas futuras”, detalha Canelas.

Produtos podem ser criados a partir da cocaína e cigarros

As faculdades de Engenharia Química e Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA desenvolvem, desde 2016, pesquisas com foco no desenvolvimento de tecnologias, processos e produtos a partir de biomassa residual voltadas a produção de biogás (geração de energia), biocombustíveis líquidos (gasolina, querosene e diesel verdes) e bio-adsorventes que podem ser utilizados na produção de bio-filtros para desinfecção e remoção de poluentes de água de poços em comunidades isoladas. Neste contexto, a UFPA lidera pesquisas em Bioenergia na Região Amazônica e coopera no projeto da PF.

Nélio Teixeira, professor da UFPA que é apoiador científico do projeto juntamente com os pesquisadores Adriano da Silva e Ana Immichi, da UFSC; ressalta que além da produção de itens de alto valor agregado, o estudo auxilia no desenvolvimento de novas tecnologias. “Isso demonstra que o Pará é protagonista na transformação da sua biodiversidade”, lembra.

“O biogás produzido no processo dos gases que não foram condensados possui alto teor calorífico e pode ser usado no próprio processo (secagem da biomassa, por exemplo) ou na geração da energia do reator, além da produção e um biocarvão com propriedade absorventes e bioporosas que pode ser utilizado como biofiltro para comunidades isoladas, diz Teixeira.

Antônio Canelas destaca que a técnica utilizada continua a ser uma incineração, só que com pouco oxigênio, onde os gases poluentes resultantes desse processo e que atacam o meio ambiente, são condensados e transformados em produtos. “Ou seja, ao mesmo tempo que geramos combustível verde também geramos receita, tirando policiais de serviços como guarda e escolta de drogas e colocando-os na atividade fim, que é o de combater o crime”, justifica o perito da PF.

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O projeto é piloto e, além da maconha, a intenção é usar o mesmo reator para produzir produtos a partir da transformação da cocaína e cigarro, além de outros narcóticos apreendidos. Teixeira ressalta que, conforme a legislação vigente, a maconha apreendida deve ser incinerada.

“Diversos custos estão associados a esse processo, como logística de transporte, armazenamento, segurança/vigilância, movimentação de pessoal (diárias e passagens), assim como custos de incineração. O projeto é viável do ponto de vista econômico, pelo simples fato de que a transformação deste material apreendido via pirólise em diversos produtos de valor agregado possibilita a diminuição destes custos inerentes ao processo de incineração”, argumenta.

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A iniciativa também diminui casos de invasão de delegacias para o resgate de drogas, bem como dispensa o envio de muitos policiais para deslocamentos até o local de incineração de drogas, que muitas vezes ficam afastados dos grandes centros.


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