Saiba tudo sobre os africanos mortos em barco no Pará

Publicado em 17/04/2024

A Polícia Federal revelou que ao menos 25 pessoas estavam na embarcação à deriva encontrada na região de Bragança, no último sábado, 13. Esse é o número de capas de chuva (23 verdes idênticas e duas amarelas) que estava no barco, de acordo com a perícia da Polícia Federal. Foram encontrados nove corpos dentro da embarcação.

A análise preliminar de documentos encontrados também indica que a embarcação partiu após o dia 17 de janeiro deste ano. O trabalho da perícia nos corpos prosseguirá em Belém, enquanto o barco e objetos serão periciados em Bragança.

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Em entrevista à RBATV, o superintendente da Polícia Federal no Pará, José Roberto Peres, deu mais detalhes sobre o trabalho que será feito até a identificação da causa da morte das vítimas. “É um trabalho minucioso que estamos fazendo. Primeiro houve a retirada dos corpos, foram identificados, e tudo foi levantado com detalhes. Encontramos documentos que indicam que o barco saiu da Mauritânia com pessoas também de Mali. Ainda não temos a causa da morte, os corpos estão vindo para Belém e o trabalho deve se estender até o final de semana. Provavelmente por falta de alimento e de água”, informou.

A tarefa agora dos peritos e dos agentes de segurança é identificar quem são as vítimas e de onde vieram. A PF revelou que possivelmente os tripulantes vieram do continente africano, mais precisamente da Mauritânia ou Mali. É possível que a tripulação tenha percorrido pelo menos 5,3 mil quilômetros em linha reta, considerando a distância entre Mali, país mais distante, e Bragança.



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O resgate teve a participação da Polícia Federal, Marinha do Brasil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Científica, Defesa Civil, Grupamento Aéreo de Segurança Pública do Pará, Defesa Civil do Pará, Guarda Civil Municipal, Departamento Municipal de Trânsito de Bragança e Prefeitura de Bragança.

As ações de busca e resgate da embarcação começaram às 7h de domingo (140. A operação terminou às 23h30, quando a equipe chegou no porto de Vila do Castelo, uma comunidade de pescadores na zona rural do município.

SITUAÇÃO
PAÍSES

A Mauritânia é uma república islâmica e tem uma das densidades populacionais mais baixas do mundo, o que a torna “grande e vazia”. Mali, por sua vez, teve dois golpes de Estado recentemente e em curto intervalo de tempo. Em 18 de agosto de 2020, o presidente Ibrahim Boubacar Keita foi deposto por militares e em outubro se formou um governo de transição. Já em 24 de maio de 2021, os militares prenderam o presidente e o primeiro-ministro e um coronel tomou posse. A promessa era devolver o poder aos civis após as eleições que estavam previstas para fevereiro deste ano. Mas foram adiadas.

Barco é semelhante aos de pescadores da Mauritânia

O barco encontrado com corpos no Pará guarda semelhanças com as embarcações usadas por pescadores da Mauritânia, conforme apontou um porta-voz da ONG Caminando Fronteras, nesta terça-feira. Documentos encontrados juntos aos nove corpos indicam que as vítimas tinham origens na Mauritânia e no Mali, segundo a Polícia Federal.



Essas embarcações de pescadores são comumente usadas por refugiados e imigrantes que cruzam o mar em direção as Ilhas Canárias, na Espanha.

A ONG Caminando Fronteras, que acompanha a movimentação desses barcos, aponta que ao menos 22 embarcações da Mauritânia se perderam no Oceano Atlântico nos últimos três meses, segundo a agência EFE.

De acordo com a Marinha, o barco foi fabricado com fibra de vidro, e tem cerca de 13 metros de comprimento. Ele foi encontrado sem motores ou quaisquer sistemas de propulsão e direção. Além disso, não apresenta sinais de danos estruturais, indicando não ter passado por naufrágio.

A embarcação de pequeno porte com nove corpos encontrada no Pará levaria de sete a 15 dias para se deslocar da África Ocidental para o norte do Brasil, mesmo sem nenhum tipo de propulsão. A afirmação é do oceanógrafo e professor da UERJ David Zee, que traçou hipóteses sobre a trajetória do barco encontrado no último sábado no Rio Caeté, perto do município de Bragança (PA).

“Temos dois tipos de circulação que podem deslocar uma embarcação: do ar e da água. Como a embarcação aparentemente não tinha vela, não dá para dizer que o vento é o fator de deslocamento primário. Tem que ser outra coisa: as correntes do mar”, explicou Zee.

Segundo o oceanógrafo, a Corrente Equatorial Norte – que movimenta as águas do Atlântico vindas da África Ocidental rumo ao Caribe – seria o fator principal para que o barco tenha sido encontrado em águas brasileiras, caso ele realmente tenha vindo da região. Sem nenhum tipo de propulsão identificada, o professor também rejeitou a ideia de que a embarcação seria originária do Haiti, hipótese levantada na fase inicial da investigação.

“A Corrente Equatorial Norte corre do Brasil para a Venezuela, vinda da África, e segue para o Caribe. Uma embarcação do Haiti não teria condições de chegar ao Brasil sem algum tipo de força motriz “, afirmou.

O oceanógrafo Cassiano Monteiro Neto, do Laboratório de Biologia Marinha da UFF, reforçou a opinião de Zee sobre a possibilidade da embarcação ter sido trazida pela Corrente Equatorial Norte. Ele relembrou a jornada do navegante e escritor Amyr Klink em 1984, quando fez a travessia do oceano em um barco a remo.

“O Amyr Klink fez essa jornada a remo, pegando carona na Corrente Equatorial Sul. Essa embarcação que chegou no Pará muito possivelmente foi trazida por essa corrente ou pela Corrente Equatorial Norte”, complementou.

No entanto, David Zee não ignora a possibilidade dessa viagem ter ganhado impulso com os Ventos Alísios, que circulam no Equador vindo do continente africano para a América do Sul.

“ Os Ventos Alísios vêm da Mauritânia até o Amapá. Estamos em época de El Niño, que pode enfraquecer esses ventos, mas não anula totalmente a força desse impulso”, explicou.

Segundo ele, nessa época do ano o El Niño pode estar sendo substituído pelo fenômeno La Niña, que, por sua vez, fortaleceria os Ventos Alísios. Por essa incerteza, o professor atribui às correntes marítimas o fator principal, visto que a embarcação não tinha velas e pouca superfície para ser deslocada pelo vento.


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