Talvez além das clichês: 16 canções para (ou sobre) Belém

Publicado em 12/01/2023

Invadida oficialmente em 1616 pelos portugueses, Belém chega aos 407 anos e segue como uma senhora linda, apesar da sina de ser mal cuidada, tal qual uma viúva que se acostumou a viver sem amores verdadeiros que possam (e queiram) cuidar dela.

É a capital paraense e por ela que selecionei dezesseis canções neste texto que não é novo. É uma adaptação de uma publicação feita em janeiro de 2015. Oito anos se passaram, mas a lista segue atual, característica de quem é eterna e merece atenção e mais pessoas para conhecer.

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Não, aqui você não encontrará “Belém-Pará-Brasil”, “Ao pôr do sol” “Flor do Grão-Pará” (são todas ótimas, sabemos) ou canções que usam e reciclam o clichê insuportável da cidade “das cores e sabores”, que sintetizam o amargor da falta de criatividade, respeito e amor com a capital paraense. Belém é mais. Merece mais. Tem bem mais canções, em diferentes gêneros, que fazem referência a ela ou podem ser a ela associadas.

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A lista possui 12 canções, com o acréscimo de 4 que não “são paraenses”, mas poderiam ser, como é possível notar ao ouvi-las. A seleção das músicas é, como tu vais perceber, pessoal e, por isso, restrita. Acredito que as mesmas, de gêneros e épocas diversas, ou “representam” a cidade – no sentido que preferir, caro/a leitor(a) – e/ou mesmo possibilitem pensar sobre sua situação, seus imaginários, seus/ nossos hábitos. Em uma palavra (e toda a polissemia): nós.

Entenda como “pílulas” para observar e ouvir uma cidade, nada mais. Segue a lista, em ordem talvez aleatória:

– Senhora Dona Sancha, Waldemar Henrique e Gastão Vieira

Belém, um dia já foi, talvez, a senhora Dona Sancha, uma antiga cidade-senhora de fausto, muito ligada à religiosidade, que ainda precisa descobrir seu rosto e, talvez, se (re)descobrir.

– Devorados, Madame Saatan

A Vila da Barca, um dos ícones da periferia de (ou da periférica) Belém e da relação entre capital paraense e interior do estado, é apresentada em sons e cenas pela Madame Saatan. Além da bela e inteligente canção, o registro imagético não poderia faltar nesta lista.

– Almirante Brás, Tribo

A Tribo existiu entre a segunda metade da década de oitenta e início dos anos noventa. Do gênero que poderíamos considerar como “pop rock”, produziu alguns clássicos, hoje infelizmente são pouco conhecidos, ao se falar e criticar a capital paraense e seus hábitos e ícones, como a avenida Almirante Brás de Aguiar e a “elite” econômica da capital paraense.

– Porto Caribe, Ruy Barata

Tal canção, apesar do ufanismo talvez demasiado, não poderia faltar nesta lista. Com melodia marcante e inúmeras versões já feita, se tornou até certo ponto clichê, mas segue interessante para se compreender um pouco da música da cidade e também o pensamento de uma época, que pode persistir ou não.

– O amor, o cego e o espelho, Mosaico de Ravena

Pouca conhecida do Mosaico de Ravena, “O amor, o cego e o espelho” merece destaque por falar de hábitos que hoje permanecem não somente em Belém, como em grandes metrópoles. Com um clipe gravado de forma amadora, mas bastante interessante para a época, a canção possui uma ótima versão ao vivo do Mosaico com a cantora Sammliz, da Madame Saatan, no CD/DVD “Memorial”.

– Terra Firme, Henry Burnett

É Terra Firme, mas poderia ser outro bairro ou mesmo município da região metropolitana.

– Coração de metal, Stress

A síntese do orgulho de ser da cidade em um clássico da primeira banda de heavy metal do país, o Stress.

– Vela, Madame Saatan

Fugindo de clichês, Vela fala do Círio sem citá-lo uma vez sequer. Ebós, Matintas, Cruzes, Deus, diabo, pessoas que rezam, choram e bebem com santos fazem da canção um verdadeiro e ótimo hino “rock” sobre os festejos de outubro.

– Coca & Cola, Tribo

Apesar de ter sido feita há quase três décadas, Coca & Cola segue totalmente e, infelizmente, atual.

– Matinha do Cruzeiro, Coletivo Rádio Cipó

Imagens da violência urbana e contemporânea de Belém, é também um retrato das misturas estéticas na música paraense e das periferias da cidade.

– Oswald canibal, Henry Burnett

Da poesia modernista de Oswald Andrade à filosofia contemporânea de Benedito Nunes, passando pelo interstício que une (pelo bem, pelo mal) São Paulo e Belém do Pará. A canção “Oswald Canibal”, resultado da parceria entre o poeta Paulo Vieira e o compositor Henry Burnett, apresenta um cenário em que “o Brasil – principalmente suas capitais – estão cada vez mais parecidas; infelizmente elas se igualam pela destruição, e não pela incorporação de elementos positivos. O cenário pode ser atribuído às artes em qualquer lugar do Brasil”, segundo Henry Burnett.

– Café BR, Cravo Carbono

Tudo falta, mas tudo se tem. Ou tudo se tem, mas tudo falta… Em meio às duas “farturas”, se cansa. E se vive.

– La Madame, La Pupuña e Madame Saatan

Jingle ou não, a “cidade que dorme e acorda queimando a gente” é apresentada de um modo bem interessante na canção.

Além destas doze, as outras três canções citadas acima, sem comentários que justifiquem sua presença aqui:

– A Cidade, Chico Science e Nação Zumbi

– Ela é Belém, Santtana

– Encontros e Despedidas, versão de Walter Bandeira

Enderson Oliveira é jornalista, doutorando em Sociologia e Antropologia e editor de conteúdo aqui no DOL.


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