Uma doce tradição que resiste aos anos
Publicado em 28/09/2024
O dia de São Cosme e São Damião foi celebrado ontem (27), tendo um profundo significado para o Candomblé e a Umbanda. A comemoração no Brasil ocorre nesta data porque nas religiões afro-brasileiras é neste dia que se celebra o orixá Ibeji, uma entidade infantil que costumeiramente é sincretizada com São Cosme e São Damião, sendo a data festejada com a distribuição de saquinhos de doces às crianças. Na capital paraense, a tradição é mantida em diferentes bairros, como no Guamá e na Pedreira.
O DIÁRIO acompanhou a distribuição dos doces realizada por duas pessoas devotas dos santos e que há bastante tempo realizam o festejo na capital paraense. Nos dois momentos, a criançada estava preparada e ansiosa para pegar os saquinhos, estando algumas delas usando até mesmo mochilas para guardar os produtos.
Devoto de São Cosme e São Damião, o motorista Carlos Santos, 59 anos, há 16 anos realiza a distribuição de bombons e pipocas na Passagem Hugo Richardson, no bairro do Guamá. A tradição foi herdada da mãe dele, que faleceu há 18 anos e realizava a distribuição dos bombons no bairro do Jurunas. “É um trabalho de dedicação que herdei da família. São Cosme e São Damião representam tudo para mim”, revela o devoto.
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Na tarde de ontem, o Carlos e a família dele distribuíram em dois minutos 850 saquinhos, totalizando 35 quilos de doces que fizeram a alegria da criançada.
Para a confecção dos saquinhos, a força-tarefa contou com o Carlos, a esposa e os três filhos, que demoraram três dias para deixar tudo pronto e manter a tradição organizada anualmente. Foram gastos 600 reais em recursos da própria família com a compra dos produtos. “É uma alegria fazer isso para as crianças do bairro e ver a felicidade no rosto delas”, ressalta.
No bairro da Pedreira, a tradição é mantida por meio do Instituto Cultural Nagô Afro-Brasileiro, localizado na Travessa Humaitá. No local, há seis décadas é realizada a distribuição dos doces que fazem a festa da garotada na rua.
No Instituto, foram dois dias de preparação, envolvendo uma equipe dedicada com 30 pessoas, tudo para deixar os saquinhos prontos a tempo para a distribuição que ocorreu pontualmente às 17h e atraiu muitas crianças do bairro.
O Pai Fernando de Ogum, 50 anos, coordenou o festejo e desde os 18 anos está à frente do Instituto. Segundo ele, foram 1.000 saquinhos preparados com bombons e pirulitos, o que deu em média 50 quilos de doces arrecadados. Os produtos foram doados pelos próprios membros do Instituto para celebrar a data de São Cosme e São Damião. “É um momento de satisfação e alegria pra gente. É uma forma de lembrarmos da ancestralidade infantil nesse momento tão importante para nós”, celebra.
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PARA ENTENDER
Gêmeos e médicos
l São Cosme e São Damião são santos dos primórdios da igreja cristã. E, a exemplo de outros santos com devoções antigas, como São Jorge, os registros sobre datas de nascimento e morte são escassos. O que se sabe é que Cosme e Damião teriam sido irmãos gêmeos que nasceram na região da Ásia Menor, que corresponde hoje à atual Síria, por volta do século III. Ambos seriam médicos e teriam exercido a profissão de forma voluntária, não aceitando nenhum pagamento.
l Eles seriam cristãos, em uma época em que o Império Romano ainda não aceitava o cristianismo. Por isso, foram perseguidos e mortos a mando do imperador Diocleciano por volta do início do século IV. O martírio, além da vida exemplar, foi o que os tornou santos. Por terem sido médicos, São Cosme e São Damião são considerados padroeiros dos cirurgiões, médicos, farmacêuticos e também das crianças, dos barbeiros e dos cabeleireiros. Os irmãos foram canonizados no ano de 630, por ordem do Papa Félix IV