Wes Anderson recicla fórmula com elenco de luxo em filme
Publicado em 23/05/2023
Dentro dos filmes de Wes Anderson, tudo é muito
colorido, leve e despretensioso. Na vida real, no entanto, sua cinematografia
parece estar justamente perdendo esse tom, dando espaço a uma paródia de si
mesmo. É a sensação que “Asteroid City”, que compete pela Palma de
Ouro no Festival de Cannes, passa.
O longa vem na sequência de “A Crônica
Francesa”, que também esteve na seleção principal do evento, há dois anos,
e assim como ele é picotado em diversos atos. Lá, o filme foi dividido como as
seções de uma revista. Aqui, como uma peça de teatro.
Seus elencos, sempre homéricos, também têm ficado
maiores com o passar do tempo. Em “Asteroid City” são tantos os nomes
de peso, num filme de menos de duas horas, que a sensação que o público tem é
de que muitos atores foram subutilizados como coadjuvantes de luxo.
Isso é especialmente frustrante com os nomes que,
pela primeira vez, aparecem na filmografia de Anderson, como Tom Hanks, Margot
Robbie, Scarlett Johansson e Steve Carell -este dono de um humor que certamente
tinha mais a acrescentar à trama. Seus atores-fetiche de sempre, por outro
lado, continuam em cena. É o caso de Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Edward
Norton e Adrien Brody.
“Asteroid City” é ambientada numa
cidadezinha desértica dos Estados Unidos nos anos 1950. Um pai em viagem com as
três filhas pequenas e o filho adolescente, depois da morte da mulher, fica
preso por ali depois que seu carro quebra. Ele pede ao avô das crianças que as
busque, mas, ele também, não consegue deixar a área, que é isolada após uma
aparição alienígena.
É nesse microcosmo de figuras diversas presas no
mesmo lugar que a trama se passa. Mas é difícil resumi-la porque, como em
“Crônica Francesa”, não há um fio condutor muito claro. São os
encontros e desencontros que preenchem o roteiro, sendo possível sentir a falta
de aderência daqueles personagens, que ficam no artificial.
Artificiais, também, são as formações rochosas
alaranjadas no fundo do cenário, embora neste caso o adjetivo seja uma coisa
boa. Visualmente, “Asteroid City” se distancia do tom melancólico de
“Crônica Francesa” e da paleta de confeitaria de “O Grande Hotel
Budapeste” em direção a cores mais quentes.
Mais uma vez, é divertido descobrir os pedacinhos
de excentricidade espalhados pela maquete que é a tal Cidade Asteróide do
título. Trilha sonora e figurinos são trabalhados à perfeição, tornando este um
filme inseparável do resto da obra de Anderson. As cenas sobre os alienígenas
são especialmente interessantes, já que apresentam uma ficção científica pouco
explorada pelo diretor.
Reside aí o que há de mais diferente em
“Asteroid City”. Anderson construiu para si uma das carreiras mais
originais e particulares do cinema americano recente, o que é ótimo. O longa,
porém, sofre justamente por reciclar a fórmula num piloto automático, dando
pouca vazão a qualquer ideia fora da zona de conforto e deixando seu humor truncado.
É como se Anderson pregasse para convertidos, o que
já fez no último trabalho e, esperamos, não repita em “A Maravilhosa
História de Henry Sugar”, que ele agora desenvolve.